Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 01 de dezembro de 2006.
Por volta de 250.000 trabalhadores e simpatizantes protestaram
no dia 30/11 em toda a Austrália contra as leis industriais
do governo Howard, denominadas WorkChoices.
Os sindicatos organizadores estimam que 60.000 trabalhadores tenham
participado em Melbourne, 40.000 em Sydney e 20.000 em Brisbane.
Outras manifestações foram realizadas em mais de
300 centros urbanos por todo o país.
O protesto evidenciou a massiva oposição às
relações draconianas entre o governo e a indústria
que se aprofundaram a partir do mês de março. A legislação
já corroeu os salários e as condições
de emprego, e gerou uma imensa insegurança para milhões
de trabalhadores.
A maior preocupação da liderança do sindicato,
todavia, foi a de controlar a hostilidade ao WorkChoices e
impedir qualquer luta política mais ampla contra o governo
Howard. Os protestos de ontem se tornaram pouco mais que manifestações
do Labor Party, repetindo diversas vezes aos trabalhadores
que o único meio para lutar contra a legislação
industrial de Howard era votar no Labor nas próximas
eleições federais, que ocorrerão no ano que
vem.
A grande atração do protesto realizado no Melbourne,
no Cricket Ground (MCG), foi a transmissão dos protestos
nacionais. Telões colocados em vários pontos do
encontro transmitiam os discursos oficiais, intercalados com os
anúncios dos sindicatos contra o WorkChoices, gravações
de comentários de líderes religiosos e políticos
e uma apresentação do cantor de rock Jimmy Barnes.
Tudo foi preparado para transformar os manifestantes em espectadores
passivos, que simplesmente acompanhavam a programação
oficial do evento, o que demonstra o desprezo dos sindicatos aos
trabalhadores comuns.
O secretário do Conselho dos Sindicatos Australianos
(ATU), Greg Combet, fez um discurso esclarecedor: uma nova
campanha se inicia no dia de hoje, declarou ele. O
direito do trabalhador não é somente poder lutar,
mas poder votar... acima de tudo, cada um de vocês pode
votar pela mudança nas próximas eleições
federais. Depois de descrever o Labor como a alternativa
para o governo nacional, ele disse: a única
forma de nos livrarmos das leis de relacionamento industrial de
John Howard é votando contra o atual governo.
O líder do Federal Labor, Kim Beazley, passou
a mesma mensagem: o único meio de nos livrarmos dessas
leis é jogando Howard fora, é o único caminho.
Ele pediu para que as pessoas que nunca votaram no Labor
considerassem sinceramente a hipótese de fazer
isso no ano que vem. Enquanto repetia que o Labor é
comprometido com um sistema de relações industriais
moderno, justo e flexível, Beazley não
deu nenhuma garantia aos trabalhadores de que seus direitos e
condições de vida serão preservados.
A constante repetição de que o único
caminho para derrubar o WorkChoices é votar
no Labor oculta os compromissos deste partido em defender
os interesses dos grandes empresários nos níveis
estadual e federal. Entre 1983 e 1996, os governos de Hawke e
Keating, ambos do Labor, realizaram um duro ataque às
condições de vida da classe trabalhadora com a ajuda
dos sindicatos. Desde que Howard se elegeu, o Labor Party
e os sindicatos têm colaborado ativamente com o governo
e suas ações de direita.
O pedido dos sindicatos para que se vote no Labor no
ano que vem, além de tudo, serve como um bloqueio a qualquer
movimento político independente contra o governo Howard.
Os sindicatos e o Labour Party temem que um movimento de
massas da classe trabalhadora saia do seu controle e por isso
limitam-se à crítica às leis de Howard. Eles
querem sufocar a revolta dos trabalhadores usando-a, ao mesmo
tempo, para aumentar as chances eleitorais do Labor, e
imploram por uma participação da burocracia sindical
no sistema de relações industriais. É por
essa razão que a organização da manifestação
foi claramente antidemocrática ela servia para bloquear
qualquer debate que abrisse um caminho alternativo.
A campanha do Labor para vencer as próximas eleições
é baseada nos interesses do grande capital e da grande
imprensa. O líder do partido, Beazley, reafirmou que a
sua promessa de enxugar o WorkChoices não contradiz
o seu programa de direita a favor do mercado. De forma similar,
os sindicatos expressam o seu acordo com o Labor
de 1983 a 1996, quando desempenharam o papel fundamental de sufocar
e isolar uma série de grandes greves e lutas dos trabalhadores.
Os sindicatos defenderam a reforma do governo a favor dos grandes
negócios como sendo medidas necessárias para aumentar
a competitividade australiana no capitalismo.
A dependência orgânica dos sindicatos em relação
à elite empresarial se manifesta também na ênfase
dada ao nacionalismo australiano no protesto do dia 30/11. A manifestação
iniciou com a execução do hino nacional. Além
disso, houve diversas denúncias chauvinistas de que os
empregos australianos estão sendo transferidos
para outras partes do mundo. O presidente da ACTU, Sharon Burrow,
descreveu o WorkChoices como uma ameaça aos
valores australianos, enquanto Beazley disse que a campanha
representa a luta dos bons valores dos australianos em relação
ao trabalho.
Menor número de presentes
Os protestos de ontem foram muito menores que aqueles ocorridos
no dia 15 de novembro do ano passado, quando meio milhão
de pessoas tomaram as ruas às vésperas da votação
da lei WorkChoices no Senado.
O governo e a imprensa de Murdoch defenderam a lei. O Australian
declarou cinicamente que as manifestações podem
ser descritas da melhor forma como um impressionante voto de confiança
no WorkChoices. O ministro das relações trabalhistas,
Kevin Andrews, afirmou que o número menor de manifestantes
refletiu o aumento de empregos em termos numéricos,
a mais baixa taxa de desemprego, níveis salariais recordes
e em constante crescimento, além da diminuição
da disputa entre os trabalhadores.
Tais afirmações são absurdas. Em oito
meses, desde que o WorkChoices foi posto em prática,
a oposição a ele apenas se intensificou. De acordo
com documentos lançados na semana passada, os salários
médios estão caindo como resultado destas leis,
como é o caso dos salários reais para trabalhadores
permanentes, em New York Wales, que está caindo por volta
de $33 por semana durante os últimos 12 meses. Segundo
um representante do próprio governo, dois terços
dos novos contratos individuais excluem o pagamento de multas,
o afastamento temporário e cortam um terço dos salários.
Durante o protesto, trabalhadores conversaram com o World
Socialist Web Site sobre suas experiências com o WorkChoices
e seu ódio em relação ao governo Howard [veja
em Workers
speak out against Australian industrial relations laws].
Várias das faixas, escritas à mão, davam
uma idéia do que sentiam: WorkChoices: arma
de decepção em massa, Howard é
um criminoso de guerra, Sr. Howard, escute-nos: não
somos escravos, Howard gera insegurança.
Mas não havia um apoio forte do Labor. Ao invés
disso os líderes do Labor e dos sindicatos estão
lançando ilusões de que o ALP representa um mal
menor se comparado com Howard e a coalizão.
A primeira causa para o reduzido número de pessoas nos
protestos do dia 30 foi o caráter da campanha dos sindicatos.
Nos protestos do ano passado, os organizadores diziam aos manifestantes
que o meio para barrar a aprovação da lei era a
negociação com os senadores, como Barnaby Joyce,
do Partido Nacional, e Steve Fielding, do partido fundamentalista
cristão Família em Primeiro Lugar. Após esse
fracasso, os sindicatos pediram aos trabalhadores que confiassem
no sistema legal. Os sindicatos e os governos estaduais do Labor
apelaram para o Supremo Tribunal para barrar a legislação,
mas a petição foi recusada no último mês.
Após a decisão da corte, os sindicatos cinicamente
declararam que a única coisa que restava a fazer era votar
no Labor. Ao que tudo indica, a proposta dos sindicatos
não conseguiu convencer um número significativo
de jovens e trabalhadores.
Nas manifestações do dia 30 em Sydney e Melbourne,
membros do Socialist Workers Party e apoiadores do WSWS
distribuíram milhares de panfletos, [veja em Australia:
Union protests provide no way forward against industrial relations
laws] que propunham uma alternativa socialista e internacionalista
em contraposição à falência dos sindicatos
e do Labor Party. Os panfletos enfatizaram que uma luta
genuína em defesa de condições de emprego
e salários decentes somente pode ser vitoriosa sobre a
base de uma luta contra toda a estrutura do sistema capitalista.