Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 13 de Dezembro de 2006.
Desde meados de novembro, os dirigentes do conselho de trabalhadores
e do sindicato da Volkswagen na Alemanha negam que eles possam
fazer alguma coisa em relação à decisão
da administração da Volks de transferir a produção
do modelo Golf da unidade de Bruxelas para duas outras na Alemanha,
Wolfsburg e Mosel.
Imediatamente depois da publicação dos planos
de transferência da produção, o presidente
do conselho de trabalhadores da companhia, Bernd Osterloh, afirmou
que os dirigentes sindicais estavam completamente surpresos
pela decisão do comitê executivo. Alguns dias depois,
o escritório de imprensa do IG Mettall, de Wolfsburg, publicou
uma declaração de solidariedade do sindicato aos
trabalhadores da Volkswagen de Bruxelas. De acordo com a
declaração pública de 30 de novembro, o sindicato
não permitirá que as diversas unidades da
Volkswagen sejam colocadas umas contra as outras.
Dois dias depois, 20.000 trabalhadores protestaram no centro
de Bruxelas contra a ameaça de fechamento da fábrica
da Volks na cidade de Forest. Dirigentes do IG Metall carregavam
cartazes com a frase Somente juntos somos fortes!,
e mais uma vez o sindicato declarou: não permitiremos
que as diferentes localidades da Volks sejam postas umas contra
as outras.
Os fatos, todavia, comprovam uma história bem diferente.
No dia 20 de setembro, o jornal alemão Der Spiegel
publicou uma reportagem acerca do encontro realizado na principal
fábrica da Volks em Wolfsburg, em que Osterloh esclareceu
o processo de negociações relacionado ao aumento
das horas de trabalho (sem aumento salarial), por meio da diminuição
dos intervalos e outras medidas que visam aumentar a competitividade,
que tem sido exigida pela administração.
De acordo com a reportagem do Der Spiegel, o chefe
do conselho de trabalhadores da Volkswagen, Bernd Osterloh, colocou
as negociações na dependência das promessas
concretas da administração da companhia. Se
não houver movimento, então as coisas se tornarão
sérias e nós interromperemos as discussões,
disse Osterloh. Alguns parágrafos adiante, a reportagem
acrescenta: com respeito à promessa, Osterloh tem
algo de muito concreto em mente: a próxima geração
do Golf será executada em Wolfsburg. Nós certamente
não aceitaremos nenhum quem sabe ou vamos
ver..., quando é nossa obrigação assegurar
o futuro de nossas localidades disse ele.
Numa entrevista concedida no dia 8 de setembro à agência
de imprensa alemã DPA, o líder distrital do IG Metall
para o estado da Baixa Saxônia e da Saxônia-Anhalt,
Hartmut Meine, disse: estamos um passo a frente: a Volks
está aparentemente pronta para finalizar e manter as promessas
para produção e investimento nas seis fábricas
da Alemanha ocidental. (Autohouse On-line, 8 September
2006).
No dia 11 de setembro, o Frankfurter Allgemeine Zeitung
informou que o IG Metall converteu as negociações
com a administração da Volkswagen em contratos oficiais
de barganha de processos, porque a Volks está preparada
para fazer promessas concretas respeitando a produção.
O FAZ afirmou então que o sindicato está
exigindo que a Volks amarre as promessas para todas as seis
fábricas da Alemanha ocidental. O jornal citou a
declaração do líder do distrito, Meine, que
disse que em meio a outras coisas, o novo Golf deve ser
produzido na fábrica de Wolfsburg....
A afirmação de que tal discussão centrada
em assegurar a produção do novo Golf
em Wolfsburg (Golf 6, que deve aparecer no mercado somente em
2008), e que as conversas não tem nada a ver com a produção
do Golf 5 em Bruxelas, é uma mentira. Desde o início
desse ano, Wolfgang Bernhard, o membro do comitê executivo
responsável pela reorganização dos produtos
da VW, tem afirmado repetidamente que a atual produção
do Golf em três localidadesBruxelas, Wolfsburg e Moselnão
era lucrativa e que a produção do Golf 6 deve ser
limitada a duas localidades.
Bernhard já mostrou duas credenciais quando defendeu
tais medidas de racionalização. Antes de deixar
a Mercedes e assumir o comitê executivo da Volks, em fevereiro
de 2005, ele era responsável pela reorganização
da divisão da Chrysler norte-americana, em Detroit. Lá
ele eliminou 26.000 empregos num curto espaço de tempo,
liquidou diversas fábricas, fechou outras e ditou as condições
para os fornecedores da Chrysler, o que levou a uma economia de
bilhões de dólares para a Daimler-Chrysler. Ele
está, agora, fazendo o mesmo serviço na Volkswagen,
contando com o ativo apoio do conselho de trabalhadores.
O líder do conselho de trabalhadores, Bernd Osterloh,
está muito satisfeito com o jeito decisivo e energético
de Bernhard. Em 26 de julho deste ano a revista alemã Focus
publicou um artigo intitulado Glória a Bernhard,
afirmando que de acordo com a reportagem (que apareceu anteriormente
na revista Stern) o chefe do conselho de trabalhadores
elogiou expressamente a liderança enérgica da Volkswagen,
dizendo que finalmente encontrou-se na pessoa de Wolfgang
Bernhard alguém que realmente pode dizer como se constrói
um automóvel de forma mais econômica. Osterloh
disse ainda de maneira entusiasmada: o tempo de produção
do Golf na fábrica principal, em Wolfsburg, já foi
reduzido de 50 para 37 horas.
O acordo sujo de Osterloh
O fato de que o conselho de trabalhadores alemão tenha
concordado com a extensão das horas de trabalho, sem uma
compensação salarial, aliada a outras perdas nas
condições de trabalho na Volks, que visam garantir
a produção do Golf nas localidades alemãs,
é ilustrado pela seguinte seqüência de acontecimentos.
Em fevereiro o comitê executivo da companhia anunciou
um profundo programa de reestruturação.
O custo do trabalho na Alemanha poderia ser diminuído consideravelmente
e a produção melhorada. Cerca de 20.000 trabalhadoresde
um total de 100.000ligados direta ou indiretamente
à marca Volkswagen na Alemanha, seriam ameaçados.
Ao mesmo tempo, a direção do conselho dos trabalhadores
e do IG Metall afirmou que em conseqüência da
difícil situação enfrentada pela companhia,
nós ainda consideramos que sejam necessárias medidas
que aumentem a eficiência e superem os déficits de
produção. O sindicato e o conselho de trabalhadores
afirmaram que eles enfatizaram e cooperaram no passado para
a otimização dos processos e para a implementação
de formas inovadoras de organização do trabalho.
No final de setembro do ano passado, o IG Metall já
havia contribuído para o corte de 20% do salário
de trabalhadores de algumas seções. A administração
anunciou a sua decisão de produzir o novo jeep da Volkswagen
em Portugal, ao invés deste ser produzido na sua principal
fábrica, em Wolfsburg. O custo da produção
(por automóvel) na unidade de Pámela, em Portugal,
é aproximadamente 1.000 euros mais baixo que na Alemanha.
O jeep poderia ser produzido na Alemanha somente sobre a base
de severos cortes salariais. O IG Metall capitulou à exploração
feita pela companhia e elogiou o acordo como sendo um sucesso
no que diz respeito à defesa dos empregos.
Um processo muito similar ocorreu nessa primavera. Bernhard,
exigiu o fim da semana de 4 dias de trabalho na companhia e um
retorno à semana de 35 horas de trabalhosem nenhum
acréscimo nos pagamentos. De outra forma, disse ele, seria
impossível concentrar a produção do Golf
nas fábricas alemãs. O conselho de trabalhadores
e o IG Metall concordaram imediatamente com esta proposta.
As negociações começaram na primavera,
e durante o verão um novo contrato foi assinado, apesar
de o contrato antigo ser válido até o final de 2011.
O conselho de trabalhadores estava pronto para concordar com condições
de trabalho substancialmente rebaixadas, em troca de empregos
nas plantas alemãs. No curso dessas negociações
a formulação que prevê a concentração
da produção do Golf nas fábricas alemãs
foi desenvolvida para disfarçar a retirada da produção
do Golf da fábrica de Bruxelas.
Somente depois de a administração da companhia
ter concordado com a concentração da produção
do Golf nas unidades alemãs, os dirigentes do conselho
de trabalhadores e do IG Metall aceitaram a extensão da
jornada de trabalho sem o aumento dos salários, assinando
então o contrato.
Em suma, a transferência da produção do
Golf de Bruxelas para Wolfsburg e Mosel foi um componente central
de negociação desde o início. Os mesmos conselhos
de trabalhadores que estão atualmente escrevendo declarações
de solidariedade aos trabalhadores grevistas da Volks em Bruxelas
e vertendo lágrimas de crocodilo sobre o corte de empregos
na Volkswagen de um país vizinho, estavam diretamente envolvidos
nessa decisão.
O reconhecimento do papel desempenhado pelos dirigentes dos
conselhos de trabalhadores e do sindicato fez com que a administração
da Volkswagen premiasse os seus serviços com extravagantes
subornos, com o financiamento de viagens luxuosas ao redor do
mundo e inúmeros outros privilégios.
O caso do líder do conselho, Klaus Volkert, é
agora bem conhecido. Seu salário mensal na Volks chegava
a 60.000 euros, e esta soma não inclui as despesas regularmente
pagas pela companhia à manutenção de sua
amante brasileira. Mas Volkert não é o único.
Todo o conselho de trabalhadores da Volkswagensomente em
Wolfsburg há 67 funcionários de período integral
que recebem altos saláriosfoi subornado e funciona
como co-administrador, colaborando com a administração
da companhia.
Bernd Osterloh foi membro do conselho de trabalhadores nos
últimos 16 anos. Ele foi o vice de Volkert antes da demissão
deste, causada pelas denúncias de corrupção.
Todavia, Osterloh não faz parte da facção
de Volkert, e poderia certamente ser o único a desempenhar
uma função secundária, podendo estar isento
de responsabilidade em relação aos conhecidos casos
de excessos e nepotismo. Mas isso não ameniza o problema.
Osterloh é um defensor convicto e entusiasta do sistema
alemão de colaboração entre trabalhadores
e administração.
Trabalhando muito próximo do ex-chefe de pessoal, Peter
Hartz, foi Osterloh quem elaborou o modelo de trabalho conhecido
como 5.000 vezes 5.000 que está sendo utilizado
atualmente para executar os drásticos cortes de salário
no maior complexo alemão da Volks.
Diante da concorrência mundial e da constante ameaça
de transferência da produção para países
com força de trabalho mais barata, Osterloh é um
dos membros do conselho de trabalhadores e do sindicato que defende
suas próprias fábricas por meio do corte de trabalhadores
em outras unidades da Volks fora da Alemanha e mesmo dentro do
país.
A defesa principista de todos os empregos em todas as localidades
só é possível por meio de uma luta contra
tais sindicalistas co-administradores.
Os trabalhadores em Wolfsburg ou Mosel não podem permitir
serem jogados contra os seus colegas de Bruxelas. Eles devem exigir
que todos os membros do conselho de trabalhadores e representantes
do sindicato que participaram nas negociações revejam
os contratos que tratam da transferência da produção
do modelo Golf.
A defesa principista de todos os empregos em todas as fábricas
requer uma perspectiva completamente diferente das políticas
de co-administração e pacto social dos sindicatos.
Tal perspectiva é resultado do caráter internacional
da produção moderna e os interesses comuns de todos
os trabalhadores do mundo, e deve defender uma transformação
socialista da sociedade. Os interesses sociais da população
como um todo deve ter prioridade em relação ao interesse
de lucro do grande capital.
Então, nos panfletos distribuídos pelos apoiadores
do World SocialistWeb Site (WSWS) em Bruxelas,
nós defendemos a construção dos comitês
de defesa contra as demissões em massa e o corte dos direitos,
opondo-nos às políticas nacionais dos sindicatos
e dos conselhos de trabalhadores. Mais uma vez chamamos a todos
aqueles que apóiam a luta dos trabalhadores da Volkswagen
em Bruxelas, ou que desejam fazer parte da construção
dos comitês de defesa em outras empresas, a entrarem em
contato com o comitê editorial do WSWS.