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Greve na Volkswagen de Bruxelas entra na terceira semana

Trabalhadores alemães da Volks expressam solidariedade aos seus companheiros belgas

Por Marianne Arens
7 Dezembro 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 02 de dezembro de 2006.

A greve dos trabalhadores na fábrica da Volkswagen em Forest, Bruxelas, contra a perda de 4.000 empregos e a ameaça do fechamento da unidade entrou em sua terceira semana de resistência. O fim da produção do modelo Golf nessa fábrica localizada no oeste de Bruxelas significa—além das grandes chances de cortes de empregos nas companhias terceirizadas—um total de 13.000 famílias ameaçadas de perder a sua principal fonte de renda. Uma manifestação realizada por todos os trabalhadores da Volks na Europa aconteceu no dia 2 de dezembro, em Bruxelas.

O conselho central de trabalhadores da VW assumiu a tarefa de concretizar a estratégia da administração isolando toda e qualquer resistência por parte dos trabalhadores. A recente detenção do presidente do conselho (Klaus Volkert), concomitante à investigação de outros 10, torna claro que todos eles foram subornados e que estão completamente comprometidos com a administração da empresa. Em apenas no ano de 2002, Volkert recebeu um total de 700.000 euros como pagamentos pela empresa.

O substituto de Volkert, Bernd Osterloh, envolveu-se por dias em discussões com Michael Riffel—o secretário geral do conselho de trabalhadores da companhia na Europa —com a administração da VW na Bélgica, com representantes do governo belga e com sindicalistas locais. Com a intenção de sabotar todo e qualquer esforço dos trabalhadores em levar uma defesa principista de todos os empregos, os burocratas do sindicato estão elaborando diversos projetos envolvendo “produção alternativa” e vários tipos de “planos sociais”.

A proposta de que a fábrica belga seja responsável, no futuro, pela produção de um modelo Audi, com um menor número de trabalhadores necessários, torna claro que a transferência da produção do modelo Golf está assinada e fixada. Agora a renovada e especulativa discussão sobre a possibilidade de alternativas para a produção será utilizada para jogar localidades e trabalhadores uns contra os outros—por exemplo, a planta da VW em Pamplona, na Espanha. Esta estratégia deve ser duramente combatida pelos trabalhadores.

A decisão de transferir a produção do Golf da fábrica belga para as fábricas alemãs em Mosel e Wolfsburg está diretamente ligada a um acordo recentemente efetivado pelo conselho de trabalhadores da VW alemã, em que se prevê uma jornada semanal mais longa sem compensação salarial. Desde o início de novembro os trabalhadores da Volks na Alemanha têm de trabalhar quatro horas a mais do que trabalhavam antes, sem receber nada a mais por isso.

Essa cínica traição do sindicato IG Metall veio acompanhada de declarações hipócritas de solidariedade. Um aviso à imprensa, do sindicato de Wolfsburg, no dia 30 de novembro diz: “O IG Metall de Wolfsburg permanece ao lado dos trabalhadores em Bruxelas. Nós não permitiremos que as localidades sejam jogadas umas contra as outras”. Significativamente, não há nenhuma indicação na declaração de que o sindicato se oporá às demissões compulsórias na Bélgica.

A traição dos sindicatos fica evidente quando sua posição é comparada com a reação dos trabalhadores comuns da Volkswagen, que estão chocados e revoltados com a possibilidade de que se feche a fábrica de Bruxelas. Essa foi a reação mais comum entre os trabalhadores em Wolfsburg entrevistados pela equipe de reportagem do WSWS na semana passada. A equipe ainda distribuiu milhares de cópias de um panfleto pedindo solidariedade aos trabalhadores da Volks de Bruxelas. A fábrica de Wolfsburg é a principal da VW na Alemanha, com aproximadamente 50.000 trabalhadores.

O WSWS defende a construção de comitês independentes para que se erga a defesa de todos os empregos em todas as plantas da VW. Declara que tal defesa principista dos empregos necessita de um rompimento político com a concepção de parceria social e colaboração entre trabalhadores e patrões, e chama a discussão numa perspectiva socialista e internacionalista.

Quase todos os trabalhadores pegaram o panfleto do WSWS, a não ser alguns conservadores que declararam: “melhor eles do que nós”. Muitos tinham esperanças na Volkswagen. Por exemplo, um trabalhador que disse: “eu não consigo imaginar como eles poderiam simplesmente fechar a Volks em Bruxelas. Eles podem sempre encontrar um caminho. Eles sempre tiveram a possibilidade de fazer acordos, mesmo que o resultado não seja tão bom”. Muitos trabalhadores, todavia, estavam muito preocupados com a situação, comentando que “se é possível que se feche uma fábrica na Bélgica, então é facilmente possível que isso ocorra aqui também”.

Muitos expressaram seu descontentamento e ceticismo em relação ao conselho de trabalhadores. Um disse: “Pode esquecer do conselho de trabalhadores. A primeira preocupação deles é olharem para si mesmos”.

Volker Kaczmarek trabalhou na Volkswagen por 25 anos. “Há uma atmosfera ruim na fábrica”, disse ele, “existem muito poucas discussões e pequenas disputas são freqüentes. Não existe mais cooperação real. O sistema de produção foi reestruturado quatro ou cinco vezes nos últimos tempos”.

“Ouvi na televisão que 4.000 empregos devem ser cortados na Bélgica. Algo deve ser feito! Até agora eu tinha a esperança de que a administração poderia criar alguns novos empregos para os trabalhadores afetados; existe uma necessidade constante para o desenvolvimento de novos materiais”.

“A Volkswagen é líder em todos os aspectos—é a maior fábrica no estado da Baixa Saxônia e uma das maiores companhias do mundo. Mas cortes e demissões estão sendo realizados por toda parte, tudo se tornou incerto. Eles têm novos trabalhadores na China, na Índia e uma nova fábrica está sendo construída na Rússia. Como isso nos afetará? Por enquanto, existe um certo grau de estabilidade aqui, mas quando se lê todas as notícias, você fica inquieto”.

“Agora nós temos que trabalhar por períodos mais longos recebendo salários mais baixos. Ao mesmo tempo, os executivos estão recebendo enormes salários e enchendo seus bolsos. Isso não pode continuar. Em algum momento a Volkswagen terá de parar com tudo isso”.

Quando questionado em relação aos conselhos de trabalhadores e a detenção de Klaus Volkert sob acusação de corrupção, Volker comentou: “é a mesma situação que ocorre aqui com os conselhos de trabalhadores. Algumas vezes eu penso que eles não representam mais os trabalhadores como deveriam, mas atuam como parte da administração da Volks. O representante do conselho dos trabalhadores em meu departamento me disse recentemente ‘se você precisar falar comigo, me ligue ou passe por aqui’. Mas na seção da fábrica onde trabalho agora só o vi uma vez”.

Manfred disse: “Eu penso que existem muitas pessoas corruptas empregadas aqui. Alguém precisa prová-lo, de qualquer forma. Estou naturalmente desapontado com Klaus Volkert. Eu já sabia que ele tinha proximidade com o comitê executivo. Todos sabiam. Mas não se sabia que ele estava sendo tão bem recompensado por isso. Ele sempre discursa nos encontros da fábrica. Ele era um bom orador, e passava uma impressão agradável, por meio das palavras: ‘eu farei tudo por vocês’”.

O sindicato de engenheiros e industriais, IG Metall, tem uma grande representatividade nas fábricas de Wolfsburg e recebe regularmente em torno de 80 a 90% de votos. No primeiro dia de trabalho na fábrica, perguntam a todo novo trabalhador da Volks se ele ou ela deseja se tornar membro do sindicato. O único outro sindicato que atua em meio aos trabalhadores da produção é um sindicato pequeno e cristão, o CMV.

Quando questionado sobre a proposta de se organizarem comitês independentes dos conselhos de trabalhadores e sindicatos, Manfred diz: “sim, alguém deve pensar nisso. A única questão é: quem fará isso? Os membros do conselho de trabalhadores estão totalmente atarefados com suas atividades. Precisaríamos fazer isso durante nossas horas livres”.

Massimo Palumbo é um italiano que trabalhou na fábrica por aproximadamente 10 anos. Ele disse ao WSWS: “cortes e fechamentos estão acontecendo em todos os lugares, não somente em Bruxelas ou na Alemanha. Empregos estão sendo cortados em geral. Não sou um egoísta que poderia dizer, ‘prefiro manter meu emprego aqui e estou preparado para deixar os trabalhadores de Bruxelas abandonados à própria sorte’. Espero que alguma solução possa ser encontrada para os colegas de Bruxelas”.

“Em minha opinião os empregos são mais importantes do que os lucros. Os conselhos de trabalhadores deveriam realmente pressionar mais o comitê executivo. Eu só espero que o sindicato possa voltar a ser novamente um sindicato, propriamente—isso poderia ser um ótimo primeiro passo”.

Quando questionado em relação à corrupção dos líderes do conselho de trabalhadores, Massimo comentou: “só ouvi falar sobre isso em termos genéricos, não conheço os detalhes. Isso é uma pena, é claro. Eles danificaram a VW e isso significa também o carro que dirijo. É errado o que eles fizeram com nosso dinheiro, e muito pior, o que eles fizeram com nossa confiança. Houve uma grande perda de confiança. Seria muito melhor se Osterloh fizesse as coisas de outra forma”.

Quando pedimos para que comentasse a proposta da organização de comitês independentes de defesa dos trabalhadores, Massimo disse: “deve haver alguém que esteja preparado para representar os nossos interesses. Não temos idéia das pessoas que estão no alto, o que elas pensam. Eles não estão pensando em nós. Nós só vemos o que vai acontecer no final do processo”.

“Em primeiro lugar veio a redução das horas, em 1997. Naquela época estávamos trabalhando apenas cinco horas por dia, então veio um novo modelo. Agora estamos trabalhando mais novamente—infelizmente sem nenhum aumento de salário. Estamos trabalhando mais por nada, apenas pela companhia. Isso não está certo”.

Giuseppe Cioffro trabalhou na VW por 33 anos: “Eu posso dizer que o que nós necessitamos é de um sindicato internacional. Eu estive na trabalhando na China quatro vezes e posso lhes contar algumas histórias: segurança industrial, proteção do meio-ambiente, higiene—lá não existe nada disso. Também estive na Rússia diversas vezes”.

“Um sindicato não pode fazer nada em escala nacional, é necessário que exista um sindicato que atue no nível mundial. A globalização consiste em empresas de alcance mundial, e nenhum dos grandes chefes está preparado para que lhe digam o que fazer? O comitê executivo estabelece o sistema, e o IG Metall somente o implementa. Esse sindicato ainda pode ser chantageado. Num escala nacional os sindicatos não conseguem alcançar nada, absolutamente nada”.