Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 02 de dezembro de 2006.
A greve dos trabalhadores na fábrica da Volkswagen em
Forest, Bruxelas, contra a perda de 4.000 empregos e a ameaça
do fechamento da unidade entrou em sua terceira semana de resistência.
O fim da produção do modelo Golf nessa fábrica
localizada no oeste de Bruxelas significaalém das
grandes chances de cortes de empregos nas companhias terceirizadasum
total de 13.000 famílias ameaçadas de perder a sua
principal fonte de renda. Uma manifestação realizada
por todos os trabalhadores da Volks na Europa aconteceu no dia
2 de dezembro, em Bruxelas.
O conselho central de trabalhadores da VW assumiu a tarefa
de concretizar a estratégia da administração
isolando toda e qualquer resistência por parte dos trabalhadores.
A recente detenção do presidente do conselho (Klaus
Volkert), concomitante à investigação de
outros 10, torna claro que todos eles foram subornados e que estão
completamente comprometidos com a administração
da empresa. Em apenas no ano de 2002, Volkert recebeu um total
de 700.000 euros como pagamentos pela empresa.
O substituto de Volkert, Bernd Osterloh, envolveu-se por dias
em discussões com Michael Riffelo secretário
geral do conselho de trabalhadores da companhia na Europa com
a administração da VW na Bélgica, com representantes
do governo belga e com sindicalistas locais. Com a intenção
de sabotar todo e qualquer esforço dos trabalhadores em
levar uma defesa principista de todos os empregos, os burocratas
do sindicato estão elaborando diversos projetos envolvendo
produção alternativa e vários
tipos de planos sociais.
A proposta de que a fábrica belga seja responsável,
no futuro, pela produção de um modelo Audi, com
um menor número de trabalhadores necessários, torna
claro que a transferência da produção do modelo
Golf está assinada e fixada. Agora a renovada e especulativa
discussão sobre a possibilidade de alternativas para a
produção será utilizada para jogar localidades
e trabalhadores uns contra os outrospor exemplo, a planta
da VW em Pamplona, na Espanha. Esta estratégia deve ser
duramente combatida pelos trabalhadores.
A decisão de transferir a produção do
Golf da fábrica belga para as fábricas alemãs
em Mosel e Wolfsburg está diretamente ligada a um acordo
recentemente efetivado pelo conselho de trabalhadores da VW alemã,
em que se prevê uma jornada semanal mais longa sem compensação
salarial. Desde o início de novembro os trabalhadores da
Volks na Alemanha têm de trabalhar quatro horas a mais do
que trabalhavam antes, sem receber nada a mais por isso.
Essa cínica traição do sindicato IG Metall
veio acompanhada de declarações hipócritas
de solidariedade. Um aviso à imprensa, do sindicato de
Wolfsburg, no dia 30 de novembro diz: O IG Metall de Wolfsburg
permanece ao lado dos trabalhadores em Bruxelas. Nós não
permitiremos que as localidades sejam jogadas umas contra as outras.
Significativamente, não há nenhuma indicação
na declaração de que o sindicato se oporá
às demissões compulsórias na Bélgica.
A traição dos sindicatos fica evidente quando
sua posição é comparada com a reação
dos trabalhadores comuns da Volkswagen, que estão chocados
e revoltados com a possibilidade de que se feche a fábrica
de Bruxelas. Essa foi a reação mais comum entre
os trabalhadores em Wolfsburg entrevistados pela equipe de reportagem
do WSWS na semana passada. A equipe ainda distribuiu milhares
de cópias de um panfleto pedindo solidariedade aos trabalhadores
da Volks de Bruxelas. A fábrica de Wolfsburg é a
principal da VW na Alemanha, com aproximadamente 50.000 trabalhadores.
O WSWS defende a construção de comitês
independentes para que se erga a defesa de todos os empregos em
todas as plantas da VW. Declara que tal defesa principista dos
empregos necessita de um rompimento político com a concepção
de parceria social e colaboração entre trabalhadores
e patrões, e chama a discussão numa perspectiva
socialista e internacionalista.
Quase todos os trabalhadores pegaram o panfleto do WSWS, a
não ser alguns conservadores que declararam: melhor
eles do que nós. Muitos tinham esperanças
na Volkswagen. Por exemplo, um trabalhador que disse: eu
não consigo imaginar como eles poderiam simplesmente fechar
a Volks em Bruxelas. Eles podem sempre encontrar um caminho. Eles
sempre tiveram a possibilidade de fazer acordos, mesmo que o resultado
não seja tão bom. Muitos trabalhadores, todavia,
estavam muito preocupados com a situação, comentando
que se é possível que se feche uma fábrica
na Bélgica, então é facilmente possível
que isso ocorra aqui também.
Muitos expressaram seu descontentamento e ceticismo em relação
ao conselho de trabalhadores. Um disse: Pode esquecer do
conselho de trabalhadores. A primeira preocupação
deles é olharem para si mesmos.
Volker Kaczmarektrabalhou na Volkswagen por
25 anos. Há uma atmosfera ruim na fábrica,
disse ele, existem muito poucas discussões e pequenas
disputas são freqüentes. Não existe mais cooperação
real. O sistema de produção foi reestruturado quatro
ou cinco vezes nos últimos tempos.
Ouvi na televisão que 4.000 empregos devem ser
cortados na Bélgica. Algo deve ser feito! Até agora
eu tinha a esperança de que a administração
poderia criar alguns novos empregos para os trabalhadores afetados;
existe uma necessidade constante para o desenvolvimento de novos
materiais.
A Volkswagen é líder em todos os aspectosé
a maior fábrica no estado da Baixa Saxônia e uma
das maiores companhias do mundo. Mas cortes e demissões
estão sendo realizados por toda parte, tudo se tornou incerto.
Eles têm novos trabalhadores na China, na Índia e
uma nova fábrica está sendo construída na
Rússia. Como isso nos afetará? Por enquanto, existe
um certo grau de estabilidade aqui, mas quando se lê todas
as notícias, você fica inquieto.
Agora nós temos que trabalhar por períodos
mais longos recebendo salários mais baixos. Ao mesmo tempo,
os executivos estão recebendo enormes salários e
enchendo seus bolsos. Isso não pode continuar. Em algum
momento a Volkswagen terá de parar com tudo isso.
Quando questionado em relação aos conselhos de
trabalhadores e a detenção de Klaus Volkert sob
acusação de corrupção, Volker comentou:
é a mesma situação que ocorre aqui
com os conselhos de trabalhadores. Algumas vezes eu penso que
eles não representam mais os trabalhadores como deveriam,
mas atuam como parte da administração da Volks.
O representante do conselho dos trabalhadores em meu departamento
me disse recentemente se você precisar falar comigo,
me ligue ou passe por aqui. Mas na seção da
fábrica onde trabalho agora só o vi uma vez.
Manfred disse: Eu penso que existem muitas pessoas corruptas
empregadas aqui. Alguém precisa prová-lo, de qualquer
forma. Estou naturalmente desapontado com Klaus Volkert. Eu já
sabia que ele tinha proximidade com o comitê executivo.
Todos sabiam. Mas não se sabia que ele estava sendo tão
bem recompensado por isso. Ele sempre discursa nos encontros da
fábrica. Ele era um bom orador, e passava uma impressão
agradável, por meio das palavras: eu farei tudo por
vocês.
O sindicato de engenheiros e industriais, IG Metall, tem uma
grande representatividade nas fábricas de Wolfsburg e recebe
regularmente em torno de 80 a 90% de votos. No primeiro dia de
trabalho na fábrica, perguntam a todo novo trabalhador
da Volks se ele ou ela deseja se tornar membro do sindicato. O
único outro sindicato que atua em meio aos trabalhadores
da produção é um sindicato pequeno e cristão,
o CMV.
Quando questionado sobre a proposta de se organizarem comitês
independentes dos conselhos de trabalhadores e sindicatos, Manfred
diz: sim, alguém deve pensar nisso. A única
questão é: quem fará isso? Os membros do
conselho de trabalhadores estão totalmente atarefados com
suas atividades. Precisaríamos fazer isso durante nossas
horas livres.
Massimo Palumbo é um italiano que trabalhou na fábrica
por aproximadamente 10 anos. Ele disse ao WSWS: cortes e
fechamentos estão acontecendo em todos os lugares, não
somente em Bruxelas ou na Alemanha. Empregos estão sendo
cortados em geral. Não sou um egoísta que poderia
dizer, prefiro manter meu emprego aqui e estou preparado
para deixar os trabalhadores de Bruxelas abandonados à
própria sorte. Espero que alguma solução
possa ser encontrada para os colegas de Bruxelas.
Em minha opinião os empregos são mais importantes
do que os lucros. Os conselhos de trabalhadores deveriam realmente
pressionar mais o comitê executivo. Eu só espero
que o sindicato possa voltar a ser novamente um sindicato, propriamenteisso
poderia ser um ótimo primeiro passo.
Quando questionado em relação à corrupção
dos líderes do conselho de trabalhadores, Massimo comentou:
só ouvi falar sobre isso em termos genéricos,
não conheço os detalhes. Isso é uma pena,
é claro. Eles danificaram a VW e isso significa também
o carro que dirijo. É errado o que eles fizeram com nosso
dinheiro, e muito pior, o que eles fizeram com nossa confiança.
Houve uma grande perda de confiança. Seria muito melhor
se Osterloh fizesse as coisas de outra forma.
Quando pedimos para que comentasse a proposta da organização
de comitês independentes de defesa dos trabalhadores, Massimo
disse: deve haver alguém que esteja preparado para
representar os nossos interesses. Não temos idéia
das pessoas que estão no alto, o que elas pensam. Eles
não estão pensando em nós. Nós só
vemos o que vai acontecer no final do processo.
Em primeiro lugar veio a redução das horas,
em 1997. Naquela época estávamos trabalhando apenas
cinco horas por dia, então veio um novo modelo. Agora estamos
trabalhando mais novamenteinfelizmente sem nenhum aumento
de salário. Estamos trabalhando mais por nada, apenas pela
companhia. Isso não está certo.
Giuseppe Cioffrotrabalhouna
VW por 33 anos: Eu posso dizer que o que nós necessitamos
é de um sindicato internacional. Eu estive na trabalhando
na China quatro vezes e posso lhes contar algumas histórias:
segurança industrial, proteção do meio-ambiente,
higienelá não existe nada disso. Também
estive na Rússia diversas vezes.
Um sindicato não pode fazer nada em escala nacional,
é necessário que exista um sindicato que atue no
nível mundial. A globalização consiste em
empresas de alcance mundial, e nenhum dos grandes chefes está
preparado para que lhe digam o que fazer? O comitê executivo
estabelece o sistema, e o IG Metall somente o implementa. Esse
sindicato ainda pode ser chantageado. Num escala nacional os sindicatos
não conseguem alcançar nada, absolutamente nada.