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Prisões em Londres: uma nova tentativa de aterrorizar o povo norte-americano

Por Bill Van Auken, candidato pelo Socialist Equality Party ao senado norte-americano
22 de agosto de 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia12 de agosto de 2006

Mesmo antes que sejam revelados maiores detalhes do alegado plano terrorista de explodir aviões transatlânticos, o povo americano já é submetido, novamente, a uma campanha supervisionada pela Casa Branca, que visa disseminar o medo e a intimidação.

O intuito dessa propaganda dirigida, apoiada pela mídia, é tratar toda e qualquer oposição à guerra no Iraque e às políticas da administração Bush em geral, como sendo ligadas à conspiração ou fruto da capitulação ao terrorismo e aos assassinatos em massa.

O governo não esperou nem mesmo o anúncio das prisões para começar sua campanha. O vice-presidente Dick Cheney, numa repulsiva declaração feita na quarta-feira (09/08) em uma rara teleconferência com a imprensa, comentou a primeira derrota democrata sofrida pelo senador Joseph Lieberman, de Connecticut. Homem de poucas palavras, candidato democrata à vice-presidência em 2000, Lieberman foi derrotado pelo iniciante Ned Lamont, que se mostrou crítico à guerra no Iraque, atacando Lieberman por seu apoio à mesma.

Cheney descreveu a derrota sofrida por Lieberman que, no Partido Democrata, tem sido o mais servil colaborador das políticas adotadas pelo governo, mostrando-se “preocupado”, particularmente “com respeito aos esforços nacionais na guerra global ao terror”.

“O que mais perturba em relação a isso”, continuou Cheney, “é o fato de que, nesse conflito, nossos adversários estejam claramente apostando na destruição da força de vontade do povo americano e da nossa habilidade em continuar na luta e completar nossa tarefa”.

A mensagem foi clara: a maioria dos democratas de Connecticut, que entrou nas seções eleitorais na terça-feira e votou num candidato contrário à guerra, estaria dando ajuda e sustentação à Al Qaeda.

No momento em que pronunciava tais provocativas palavras, Cheney, assim como Bush, era informado da investigação policial britânica e ficava sabendo que mais perseguições e prisões continuariam ocorrendo, sempre combinadas com o furor da mídia contra o terrorismo.

O porta-voz da Casa Branca Tony Snow declarou à imprensa que, no mesmo dia, os democratas hasteavam “a bandeira branca pela guerra ao terror”.

Os mesmos sentimentos foram ecoados por Lieberman depois de anunciadas as prisões no Reino Unido. O senador, repudiado nas urnas pelos eleitores de seu próprio partido, está desafiando as pesquisas eleitorais ao concorrer como um independente contra Lamont. O apoio a Lamont, declarou, poderia ser “entendido como uma tremenda vitória das mesmas pessoas que quiseram explodir os aviões nesse plano forjado na Inglaterra”.

Entre a declaração de Cheney e a de Lieberman foi difundida ao vivo, em rede nacional de televisão, mais uma declaração por parte do presidente Bush contribuindo para a política de propagação do medo. “Esta nação está em guerra contra islâmicos fascistas que farão uso de qualquer meio para destruir aqueles que amam a liberdade, para ferir nossa nação”, declarou, acrescentando que “a população americana precisa saber que vivemos num mundo perigoso, mas que nosso governo fará tudo o que puder para defender nosso povo de tais perigos”.

Pouco se sabe ainda sobre a identidade e a ideologia dos suspeitos no citado plano de explodir aviões britânicos. Se há alguma coisa que soa como fascismo incipiente, todavia, são os deploráveis enunciados de Cheney e Lieberman.

Em momentos anteriores da “guerra global ao terrorismo” conduzida por Bush, o presidente dos EUA fez infames declarações ao mundo: “ou você está conosco ou está contra nós”. Agora, a mesma mensagem é difundida à população norte-americana em termos muito claros. Divergências e oposições, mesmo as mais brandas, endereçadas ao governo, à sua política exterior e aos ataques aos direitos democráticos, todas elas, representariam um apoio ao terrorismo.

Os esforços de Cheney, Bush e Lieberman em caracterizar os seus oponentes como tolos, cúmplices do terrorismo, têm a intenção clara de desviar a atenção pública de seus próprios crimes, ao arrastar o povo americano a uma guerra ilegal, baseada em mentiras. Esses esforços são, além disso, direcionados para distrair a opinião pública em relação ao desastre que a aventura imperialista no Iraque representou.

Não há nada de novo nessas informações. Durante a última eleição nacional, em 2004, aproximadamente no mesmo período do calendário eleitoral, o público foi submetido a outro susto. Alertas do “Código Laranja” foram declarados nas cidades de New York, Washington e Newark, Nova Jersey e brigadas de armas especiais foram posicionadas no entorno das principais instituições financeiras nas três cidades. Depois, descobriu-se que as fontes nas quais a inteligência havia se baseado eram de 3 ou 4 anos atrás, e a maioria das informações havia sido reunida em programas de internet. Não havia nenhuma ameaça de qualquer ataque iminente.

(Naquela época, foi Lieberman quem atacou o democrata Howard Dean por denunciar a motivação política existente no anúncio do alegado perigo. “Ninguém em sã consciência pensaria que o presidente ou o secretário de segurança nacional poderia levantar um alerta e aterrorizar a população por razões políticas”, declarou ele).

Ainda está por ser descoberto que tipo de provas e evidências são utilizadas no presente momento. É necessário, todavia, ter em mente que o histórico das autoridades inglesas nessas questões não é melhor que o de sua réplica americana. Em junho último, a polícia britânica realizou uma invasão e busca numa casa em Forest Gate (leste de Londres), na qual um homem levou um tiro e outros foram fisicamente agredidos diante de uma grande quantidade de policiais, que chegaram ao local vestidos com trajes à prova de armas químicas. Nenhuma evidência foi encontrada e ninguém foi preso.

Em julho passado, houve o assassinato-execução do imigrante brasileiro Jean Charles de Menezes, um trabalhador inocente que foi tratado como um suspeito terrorista pelos comandantes da polícia britânica.

Em 2003, houve o tão falado “plano terrorista da ricina”, envolvendo um suposto laboratório da Al Qaeda ao norte de Londres que fabricava “armas de destruição em massa”. O caso caducou logo que se provou não haver plano terrorista algum, nem armas, nem meios para fabricá-las.

A história completa acerca da presente onda de terror é ainda um enigma. É inegável que existam condições políticas para tal ataque; é inegável também que elas têm sido estimuladas, tanto pela ocupação americana no Iraque como pelo apoio incondicional de Washington à investida israelense no Líbano. Mas é preciso considerar o histórico das autoridades e de sua polícia, que mostra ser impossível aceitar, sem críticas, as declarações dos governos americano e britânico; afinal, há motivos de sobra para submetê-las a rigorosa averiguação baseada sempre em fatos concretos.

A intenção de Cheney, Lieberman e outros em explorar as notícias de Londres é um exercício de cinismo desenfreado. No campo republicano as notícias do suposto plano frustrado foram recebidas com franca alegria.“Semanas antes do 11 de setembro (de 2006), isso vai dar o que falar”, declarou um oficial da Casa Branca à Agência France Press. Ele acrescentou ainda que alguns candidatos democratas não serão mais tão admirados, à luz desses acontecimentos.

O Wall Street Journal, cujas páginas editoriais usualmente refletem com exatidão o ponto de vista dos círculos de direita que dominam a Casa Branca, agarrou-se ao alegado plano para justificar todos os crimes cometidos por Bush, de guerras de agressão, passando por seqüestros e torturas, chegando até a espionagem ilegal.

“A verdadeira lição do sucesso contra o terror na Inglaterra ontem”, concluiu o jornal, “é que a ameaça ainda é forte e que o governo americano precisa utilizar todos os meios legais para derrotá-lo”. Todavia, os métodos citados pelo jornal são certamente ilegais.

Milhões de americanos já esboçaram suas próprias conclusões a respeito do contínuo apelo à luta contra o terror como justificativa para tais crimes. O ceticismo em relação às declarações do governo e a descrença em relação aos motivos alegados se manifestaram numa pesquisa de intenção de votos realizada em maio pela Zogby International, revelando que 42% dos entrevistados acreditam que a administração de Bush acobertou os fatos sobre os ataques de 11 de setembro de 2001 - ataques que foram incansavelmente usados pelo governo como pretexto para as suas políticas.

O contexto político atual serve, por um lado, para atacar Lieberman e leva-lo à derrota eleitoral e, por outro, para acusar as seções do Partido Democrata de serem simpatizantes dos terroristas. Mas, no fundo, tanto os democratas quanto os republicanos têm como perspectiva perpetuar a luta contra o terrorismo. Esse é o eixo bipartidário da política externa norte-americana. As disputas entre democratas e republicanos restringem-se à discussão dos meios para prosseguir com tal guerra.

Tal é o caso do político “anti-guerra” democrata Ned Lamont, vencedor do primeiro turno em Connecticut. Ele não clama por uma imediata e incondicional retirada das tropas americanas do Iraque, mas, ao contrário, defende uma “estratégia para ganhar”, envolvendo o reposicionamento das forças americanas na região de maneira consistente com a meta de dominar as riquezas petrolíferas do Oriente Médio.

Os dois partidos apoiaram as mudanças na estrutura de poder das forças de segurança nacional, sancionadas pelo USA Patriot Act, que, juntamente com o Departamento de Segurança Nacional, o Comando do Norte, comissões militares e vastos programas de espionagem, constituem um prenúncio do aprofundamento do caráter policial do Estado norte-americano.

Os democratas vêm constantemente construindo os seus ataques à política no Iraque no sentido de enfatizar seu apoio à “guerra ao terrorismo”, ridicularizando a aberta ocupação do Iraque como uma distração da “real” guerra ao terrorismo. Alguns deles defendem que as forças americanas sejam recolocadas no Afeganistão, que já está fugindo do controle; outros exigem medidas mais duras contra o Irã e a Coréia do Norte. Na prática todos exigem maiores investimentos na segurança nacional.

No fim das contas, ambos os partidos representam uma elite financeira, cujos interesses são diametralmente opostos àqueles da população trabalhadora que corresponde à vasta maioria da sociedade. A colossal lacuna social que divide esse extrato dominante do restante da população não deixa lugar para a genuína democracia nos EUA, e sustenta o ascenso de políticas militaristas no exterior e políticas repressivas em território nacional.

A luta para acabar com a guerra, com as condições de pauperização e opressão que ultimamente fizeram nascer o terrorismo e a defesa dos direitos democráticos, podem ser levadas adiante somente por meio de um rompimento decisivo com o Partido Democrata e com todo o sistema de dois partidos. É necessária uma mobilização política independente da classe trabalhadora baseada num programa socialista internacionalista que vise à unificação dos trabalhadores nos EUA com os trabalhadores do Oriente Médio e de todo o mundo, numa luta comum contra o sistema do lucro.

Para avançar nessa perspectiva, com base nesse programa, e para estabelecer a fundação de um novo movimento de massas da classe trabalhadora independente é que o Socialist Equality Party está intervindo nas eleições de 2006.