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Líder da OCI francesa admite antigas ligações com o Primeiro-Ministro Lionel Jospin

Por Peter Schwarz
3 de agosto de 2006

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O artigo foi publicado originalmente no WSWS em alemão em 9 de novembro de 2001 e depois em inglês e em francês no dia 13 de Novembro de 2001. Na época, Jospin era primeiro-ministro da França. É ainda hoje importante traduzir a matéria ao português, pois, sabe-se da importância que teve a OCI francesa na história do Partido dos Trabalhadores (brasileiro), hoje no poder. Basta lembrar que nomes como Palocci, Favre, Gushiken, todos colaboradores do governo Lula, foram colaboradores também da corrente internacional “trotsquista” liderada por Lambert.

Pierre Lambert, principal líder durante muitos anos da Organização Comunista Internacionalista (OCI) francesa, pela primeira vez admitiu publicamente que o primeiro-ministro francês, Lionel Jospin , foi membro de seu partido.

Em 4 de Outubro de 2001, a revista L’Express publicou uma entrevista com Lambert, na qual ele admite que teve “relações políticas com Jospin” e que Jospin “tinha sido trotsquista”. Lambert não especificou a duração desses vínculos, mas em suas declarações está implícito que essas relações políticas se interromperam em 1986 ou, no mais tardar, em 1988.

Questionado se foi a entrada de um número significativo de destacados membros da OCI no Partido Socialista (SP), em 1986, que o levou a sua ruptura política com Jospin, Lambert responde evasivamente, dizendo que “Jospin deixou a OCI após um debate. Esta foi sua escolha. Eu pretendo comentar sobre esse período mais tarde”. Fica claro, a seguir, que Lambert só combateu Jospin a partir de 1988. Isto foi indiretamente confirmado quando Lambert denuncia o balanço de Jospin como ministro da Educação.

O primeiro ministro francês, Jospin, portanto, teria passado mais de 20 anos na OCI e trabalhado cerca de 15 anos como um membro da OCI no interior do Partido Socialista—dos quais 13 anos como parte de sua liderança nacional e cinco como Secretário-Geral. Como já havia sido revelado no último verão, em uma entrevista de Boris Fraenkel, conselheiro político de Jospin nessa época: Jospin ingressou na OCI em 1964 e entrou no Partido Socialista em 1971, pouco tempo após a sua fundação.

Em outra entrevista ao informativo da LCI, em 5 de novembro de 2001, Lambert disse que Jospin entrou na organização de François Mitterrand com sua sustentação: “por volta de 1971 e 1972—como também fizeram outros, ele entrou no Partido Socialista com meu acordo. Ele era um militante como qualquer outro e tinha um trabalho especifico a fazer”.

Lambert se recusa a dizer que Jospin fazia papel de entrista (‘Maulwurf’). Como disse ele: “Eu não imaginava que Jospin era um agente-entrista no Partido Socialista, ele entrou devido a uma característica especifica da política defendida por François Mitterrand: romper com o capitalismo. Então eles (o Partido Socialista) fizeram outra coisa. Isso é um problema deles, não meu.”

As explicações de Lambert confirmam a análise do World Socialist Web Site em um artigo anterior sobre o passado de Jospin. Em 1971 a OCI estava seguindo uma linha política a qual “de longe não tinha nada em comum com as idéias de Leon Trotsky e estava apta a ajudar os objetivos de François Mitterrand sem nenhuma dificuldade.”

Lambert, agora com 81 anos, há muito tempo é considerado o mentor daqueles que mais tarde fizeram carreira no Partido Socialista. A OCI foi o berço de muitos dos colaboradores mais próximos de Jospin, incluindo Jean-Christophe Cambadélis, o segundo homem mais importante do partido. Lambert também possuía relações pessoais próximas com figuras chave da Force Ouvrière, o sindicato de direita que emergiu de uma cisão da stalinista CGT, e na qual ocupava um cargo como funcionário permanente.

Além disso, como funcionário sindical, ele se encontrava regularmente com representantes do governo, como ele mesmo admite na entrevista à L’Express: “ Como um funcionário sindical, me encontrava com ministros do governo. Aconteceu também , sob o mandato da minha organização sindical, negociar no Elyseé (o palácio presidencial)”. Apesar dos rumores dizendo o contrário, ele afirma que jamais se encontrou com Jacques Chirac, o atual presidente da república.

Entretanto, Lambert sempre se manteve nos bastidores dos eventos públicos—com uma exceção acontecendo em 1998, quando ele concorreu como candidato a presidente sob seu nome real, Pierre Boussel. A entrevista a L’Express é apenas a segunda que ele concedeu a um jornal burguês. Recentemente anunciou a publicação de um livro, planejado para a primavera de 2002, “Memórias de um agitador clandestino”, no qual ele pretende relatar vários períodos de sua vida. O livro será lançado pouco antes da eleição presidencial e— pelo que deu a entender Lambert—o livro irá conter revelações sobre Jospin, que será o mais provável concorrente de Chirac para as eleições presidenciais.

Lambert, filho de imigrantes russos, nasceu em Paris em 1920. Aos 14, ele ingressou na organização das Juventudes Comunistas, da qual não demorou em ser expulso. Entrou, então, no movimento trotsquista quatro anos depois. Em 1952 assumiu a liderança do Partido Comunista Internacionalista (PCI), que de 1968 à 1981, passou a chamar-se OCI.

Próximo ao final dos anos 60, a OCI afastou-se da perspectiva do movimento trotskista e em 1971 formalmente rompeu com o Comitê Internacional da IV Internacional, ao qual até aquela época havia pertencido. Então, a OCI se tornou um dos principais pilares políticos de François Mitterrand, que defendia a “união da esquerda”—uma aliança do Partido Comunista e do Partido Socialista—e que finalmente venceu as eleições presidenciais em 1981.

A OCI somente retira o seu apoio a Mitterrand no fim dos anos 80, quando ele caiu em meio a uma ampla rejeição devido à sua política de direita. Foi então que Lambert fundou o Partido dos Trabalhadores (PT ), reunião de uma porção de burocratas descontentes que, por uma razão ou outra, não conseguiram fazer carreira no Partido Socialista ou nos sindicatos.

Embora a OCI tenha rompido há muito com uma perspectiva revolucionária, é certamente notável que um homem que se encontra na chefia do governo francês e que a partir de 2002, pode ser mesmo o presidente, durante boa parte de sua vida tenha trabalhado por uma organização que continua a se qualificar como “trotsquista”. A experiência de Jospin na esquerda é indispensável para ajudar no controle das crescentes tensões sociais e políticas, assim como para ajudar a dissipar qualquer ameaça vinda de baixo contra a classe dominante.

Alguns outros representantes do status quo francês, de tempos em tempos, também se confessam como antigos “trotsquistas”. Recentemente Edwy Plenel, diretor de redação do jornal Le Monde, publicou uma auto-biografia intitulada “Segredos de Juventude”, na qual confessa apaixonadamente seu passado “trotsquista”. Lá escreve: “O trotskismo é uma experiência e uma herança que sempre fará parte da minha identidade; não como um programa ou um projeto, mas como um estado de espírito, como um princípio crítico feito de deslocamentos de acuidade, de derrotas e fidelidades”.

Plenel não foi um membro da OCI, mas, da Liga Comunista Revolucionária pablista, que abandonou a perspectiva da IV Internacional em 1953. Sua lealdade ao Estado Francês é indiscutível. Assim como Jospin, o jornal Le Monde é o carro-chefe da imprensa burguesa francesa e um dos principais patrocinadores de Mitterrand durante a década de 80. Agora que o seu editor-chefe apresenta-se como “trotsquista”, isto parece ser mais um esforço na tentativa de ganhar apoio dos círculos de esquerda para controlar a enorme crise existente nos setores dominantes franceses.