O artigo foi publicado originalmente no WSWS em alemão
em 9 de novembro de 2001 e depois em inglês e em francês
no dia 13 de Novembro de 2001. Na época, Jospin era primeiro-ministro
da França. É ainda hoje importante traduzir a matéria
ao português, pois, sabe-se da importância que teve
a OCI francesa na história do Partido dos Trabalhadores
(brasileiro), hoje no poder. Basta lembrar que nomes como Palocci,
Favre, Gushiken, todos colaboradores do governo Lula, foram colaboradores
também da corrente internacional trotsquista
liderada por Lambert.
Pierre Lambert, principal líder durante muitos anos
da Organização Comunista Internacionalista (OCI)
francesa, pela primeira vez admitiu publicamente que o primeiro-ministro
francês, Lionel Jospin , foi membro de seu partido.
Em 4 de Outubro de 2001, a revista LExpress publicou
uma entrevista com Lambert, na qual ele admite que teve relações
políticas com Jospin e que Jospin tinha sido
trotsquista. Lambert não especificou a duração
desses vínculos, mas em suas declarações
está implícito que essas relações
políticas se interromperam em 1986 ou, no mais tardar,
em 1988.
Questionado se foi a entrada de um número significativo
de destacados membros da OCI no Partido Socialista (SP), em 1986,
que o levou a sua ruptura política com Jospin, Lambert
responde evasivamente, dizendo que Jospin deixou a OCI após
um debate. Esta foi sua escolha. Eu pretendo comentar sobre esse
período mais tarde. Fica claro, a seguir, que Lambert
só combateu Jospin a partir de 1988. Isto foi indiretamente
confirmado quando Lambert denuncia o balanço de Jospin
como ministro da Educação.
O primeiro ministro francês, Jospin, portanto, teria
passado mais de 20 anos na OCI e trabalhado cerca de 15 anos como
um membro da OCI no interior do Partido Socialistados quais
13 anos como parte de sua liderança nacional e cinco como
Secretário-Geral. Como já havia sido revelado no
último verão, em uma entrevista de Boris Fraenkel,
conselheiro político de Jospin nessa época: Jospin
ingressou na OCI em 1964 e entrou no Partido Socialista em 1971,
pouco tempo após a sua fundação.
Em outra entrevista ao informativo da LCI, em 5 de novembro
de 2001, Lambert disse que Jospin entrou na organização
de François Mitterrand com sua sustentação:
por volta de 1971 e 1972como também fizeram
outros, ele entrou no Partido Socialista com meu acordo. Ele era
um militante como qualquer outro e tinha um trabalho especifico
a fazer.
Lambert se recusa a dizer que Jospin fazia papel de entrista
(Maulwurf). Como disse ele: Eu não imaginava
que Jospin era um agente-entrista no Partido Socialista, ele entrou
devido a uma característica especifica da política
defendida por François Mitterrand: romper com o capitalismo.
Então eles (o Partido Socialista) fizeram outra coisa.
Isso é um problema deles, não meu.
As explicações de Lambert confirmam a análise
do World Socialist Web Site em um artigo anterior sobre
o passado de Jospin. Em 1971 a OCI estava seguindo uma linha política
a qual de longe não tinha nada em comum com as idéias
de Leon Trotsky e estava apta a ajudar os objetivos de François
Mitterrand sem nenhuma dificuldade.
Lambert, agora com 81 anos, há muito tempo é
considerado o mentor daqueles que mais tarde fizeram carreira
no Partido Socialista. A OCI foi o berço de muitos dos
colaboradores mais próximos de Jospin, incluindo Jean-Christophe
Cambadélis, o segundo homem mais importante do partido.
Lambert também possuía relações pessoais
próximas com figuras chave da Force Ouvrière,
o sindicato de direita que emergiu de uma cisão da stalinista
CGT, e na qual ocupava um cargo como funcionário permanente.
Além disso, como funcionário sindical, ele se
encontrava regularmente com representantes do governo, como ele
mesmo admite na entrevista à LExpress: Como
um funcionário sindical, me encontrava com ministros do
governo. Aconteceu também , sob o mandato da minha organização
sindical, negociar no Elyseé (o palácio presidencial).
Apesar dos rumores dizendo o contrário, ele afirma que
jamais se encontrou com Jacques Chirac, o atual presidente da
república.
Entretanto, Lambert sempre se manteve nos bastidores dos eventos
públicoscom uma exceção acontecendo
em 1998, quando ele concorreu como candidato a presidente sob
seu nome real, Pierre Boussel. A entrevista a LExpress
é apenas a segunda que ele concedeu a um jornal burguês.
Recentemente anunciou a publicação de um livro,
planejado para a primavera de 2002, Memórias de um
agitador clandestino, no qual ele pretende relatar vários
períodos de sua vida. O livro será lançado
pouco antes da eleição presidencial e pelo
que deu a entender Lamberto livro irá conter revelações
sobre Jospin, que será o mais provável concorrente
de Chirac para as eleições presidenciais.
Lambert, filho de imigrantes russos, nasceu em Paris em 1920.
Aos 14, ele ingressou na organização das Juventudes
Comunistas, da qual não demorou em ser expulso. Entrou,
então, no movimento trotsquista quatro anos depois. Em
1952 assumiu a liderança do Partido Comunista Internacionalista
(PCI), que de 1968 à 1981, passou a chamar-se OCI.
Próximo ao final dos anos 60, a OCI afastou-se da perspectiva
do movimento trotskista e em 1971 formalmente rompeu com o Comitê
Internacional da IV Internacional, ao qual até aquela época
havia pertencido. Então, a OCI se tornou um dos principais
pilares políticos de François Mitterrand, que defendia
a união da esquerdauma aliança
do Partido Comunista e do Partido Socialistae que finalmente
venceu as eleições presidenciais em 1981.
A OCI somente retira o seu apoio a Mitterrand no fim dos anos
80, quando ele caiu em meio a uma ampla rejeição
devido à sua política de direita. Foi então
que Lambert fundou o Partido dos Trabalhadores (PT ), reunião
de uma porção de burocratas descontentes que, por
uma razão ou outra, não conseguiram fazer carreira
no Partido Socialista ou nos sindicatos.
Embora a OCI tenha rompido há muito com uma perspectiva
revolucionária, é certamente notável que
um homem que se encontra na chefia do governo francês e
que a partir de 2002, pode ser mesmo o presidente, durante boa
parte de sua vida tenha trabalhado por uma organização
que continua a se qualificar como trotsquista. A experiência
de Jospin na esquerda é indispensável para ajudar
no controle das crescentes tensões sociais e políticas,
assim como para ajudar a dissipar qualquer ameaça vinda
de baixo contra a classe dominante.
Alguns outros representantes do status quo francês, de
tempos em tempos, também se confessam como antigos trotsquistas.
Recentemente Edwy Plenel, diretor de redação do
jornal Le Monde, publicou uma auto-biografia intitulada Segredos
de Juventude, na qual confessa apaixonadamente seu passado
trotsquista. Lá escreve: O trotskismo
é uma experiência e uma herança que sempre
fará parte da minha identidade; não como um programa
ou um projeto, mas como um estado de espírito, como um
princípio crítico feito de deslocamentos de acuidade,
de derrotas e fidelidades.
Plenel não foi um membro da OCI, mas, da Liga Comunista
Revolucionária pablista, que abandonou a perspectiva da
IV Internacional em 1953. Sua lealdade ao Estado Francês
é indiscutível. Assim como Jospin, o jornal Le Monde
é o carro-chefe da imprensa burguesa francesa e um dos
principais patrocinadores de Mitterrand durante a década
de 80. Agora que o seu editor-chefe apresenta-se como trotsquista,
isto parece ser mais um esforço na tentativa de ganhar
apoio dos círculos de esquerda para controlar a enorme
crise existente nos setores dominantes franceses.