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França: a crise do CPE se aprofunda

Por o WSWS
7 Abril 2006

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Neste fim-de-semana, protestos estudantis aconteceram em toda a França contra a promulgação, pelo presidente Jacques Chirac, da legislação gaullista do “Contrato do Primeiro Emprego” (CPE-Contrat Première Embauche). Apesar da enorme oposição e das manifestações populares de oposição à lei, o presidente apoiou o primeiro-ministro Dominique de Villepin e ratificou a lei, que permite que os jovens trabalhadores sejam demitidos sem justa causa durante os dois primeiros anos de trabalho.

Os protestos irromperam em cidades de todo o país depois do discurso de Chirac na televisão, na sexta-feira à noite. Em Paris, 5 mil jovens foram contidos pela tropa de choque quando tentaram marchar até o palácio de Elysée, a residência oficial do presidente. Os manifestantes clamavam, “greve geral, renúncia de Villepin, Chirac na prisão”. A tropa de choque atirou bombas de gás lacrimogêneo nos estudantes nos arredores da Universidade de Paris (Sorbonne); esta permanece bloqueada pela polícia. As autoridades relataram 100 prisões.

Em várias cidades francesas, no sábado e no domingo, os estudantes bloquearam estradas e linhas de trem, anunciando planos de novos bloqueios e ocupações de auto-estradas, estações de trem, aeroportos e edifícios públicos. “Se as manifestações e paralisações não deram o recado, precisamos diversificar as nossas formas de protesto”, afirma Karl Stoeckel, presidente da união dos estudantes secundaristas (UNL - Union Nationale Lycéene).

Trabalhadores e estudantes irão lançar amanhã [dia 4 de abril] um dia nacional de paralisações e manifestações. Espera-se que esta ação de massa seja ainda maior do que a mobilização da última terça-feira [28/03], que reuniu cerca de 3 milhões de pessoas.

Mais de 20 milhões de pessoas—quase 90% dos telespectadores—assistiram ao discurso de Chirac. De acordo com um pesquisa realizada pelo Le parisien, apenas um quarto dos entrevistados considerou o discurso convincente.

Chirac e Villepin se recusam a oferecer qualquer concessão genuína em relação à CPE. A oferta do presidente de reduzir o “período de teste” dos jovens trabalhadores de 2 anos para 1 ano mantém todos os aspectos essenciais da CPE inalterados. O outro ajuste proposto, de que os empregadores relatem aos trabalhadores despedidos a razão da demissão, é na realidade a exigência de uma explicação apenas verbal. Essa proposta foi elogiada por Lawrence Parisot, presidente da associação patronal MEDEF.

O governo se ofereceu para discutir as emendas à lei com os sindicatos trabalhistas, através do ministro do interior Nicolas Sarkozy e outros membros do partido de situação UMP (União pelo Movimento Popular). A burocracia sindical declarou que não vai se reunir com Villepin até que a CPE seja retirada. O novo papel de Sarkozy como intermediário foi pensado como facilitador da capitulação dos sindicatos.

Diversos sindicatos já indicaram que esperam ansiosos pela mesa de negociação. “O parceiro de negociação com os sindicatos não é mais o primeiro ministro, mas os deputados da UMP, a quem devemos pressionar para conseguir a revogação da lei”, declara François Chérèque, presidente do CFDT (Confederação francesa democrática do trabalho). Jean-Claude Mailly, líder do FO (Força Operária), afirma que “ não fecharia as portas às discussões com os representantes parlamentares”. Representantes de sindicatos de dois sindicatos patronais, o CFTC e o CFE-CGC, manifestaram posição semelhante.

A aceitação dos sindicatos em negociar com os representantes do governo novamente demonstra a sua determinação em isolar e mesmo suprimir o movimento anti-CPE. A sua preocupação, desde o início, tem sido a de impedir que o movimento se desenvolva em uma luta aberta contra a administração de Chirac-Villepin.

Como os sindicatos, os partidos ditos de “esquerda” não pouparam esforços em demonstrar o seu valor para a elite dominante. Onze organizações, incluindo o Partido socialista, o Partido Comunista, os Verdes e a Liga Comunista Revolucionária (LCR), formaram a “Resposta Coletiva” para coordenar a sua prostração ante o Estado francês.

A “Resposta Coletiva” realizou uma reunião sobre o pronunciamento do presidente e “pediu solenemente que Jacques Chirac derrubasse o CPE para então abrir negociações com os sindicatos e para trazer novamente a discussão ao parlamento”.

No sábado de manhã, o grupo formulou uma resposta conjunta ao pronunciamento de Chirac, aquele que promulgava o CPE. Eles declararam que Chirac “não está a favor dos interesses gerais, está procurando dividir o movimento, continuar a impor suas políticas e voltar as costas às aspirações da juventude e da grande maioria da população. Inflamando os ânimos dessa maneira, ele está perigosamente exacerbando a crise social pela qual todos nós estamos passando”.

As onze organizações ditas de “esquerda” manifestaram seu apoio ao dia nacional de ações amanhã, e anunciaram que iriam distribuir uma declaração conjunta durante as manifestações.

Repórteres do WSWS entrevistaram Brigitte Dionnet, membro do comitê executivo do Partido Comunista, após o encontro. O WSWS perguntou por que o PCF se recusou a chamar uma greve geral por tempo indeterminado com o objetivo de derrubar o governo. “Porque não é o PCF que deve chamar a greve geral por tempo indeterminado”, Dionnet respondeu. “São os sindicatos que devem fazê-lo, e então, é claro, nós vamos apoiar todas as mobilizações que acontecerão e também as propostas que os sindicatos fizerem.”

Quando o WSWS disse que chamar uma greve geral não era uma questão dos sindicatos, mas antes, uma questão política, ela respondeu: “Sim, mas nós acreditamos que não é suficiente decidir apertar um botão para que as coisas aconteçam, e então, nós continuamos a debater e lutar pela ampliação da mobilização. Se é isso o que os trabalhadores querem, deixem que eles façam isso, nós iremos apoiá-los”.

O WSWS perguntou se o papel do PCF era seguir o movimento, e não liderá-lo. “Não, isso não quer dizer que nós seguimos, quer dizer que todos têm suas esferas particulares de responsabilidade e nós estamos tentando tomar conta da nossa”.

Os stalinistas, de fato, têm um longo e já estabelecido histórico em assumir o papel de sustentação da dominação burguesa na França durante os períodos de crise. Nos levantes revolucionários de 1936 e 1968, a classe trabalhadora foi sufocada e traída pelo PCF, que há muito tempo abandonou os princípios internacionalistas e socialistas sob os quais o partido foi fundado em 1920.

Na crise atual, provocada pelos ataques do governo sobre as condições dos jovens trabalhadores, os stalinistas fizeram todo o esforço em canalizar o movimento para os sindicatos e sussurrar para conseguir apoio para a campanha eleitoral de 2007. O Partido Comunista, como força dominante dentro da classe trabalhadora, tem perdido militantes e apoiadores ao longo dos anos e agora é pouco mais que um aparelho burocrático. Robert Hue, o candidato a presidente pelo partido em 2002, recebeu apenas 3,4% dos votos.

O WSWS também falou com François Sabado, um delegado do LCR. Sabado é membro do bureau político do partido e também trabalha no bureau executivo do SU (Secretariado Unificado), a organização internacional à qual a LCR é filiada (no Brasil, a SU é representada pela Democracia Socialista que em parte atua no PT e, em parte, no PSOL). Quando perguntamos o que pensa sobre como o movimento deveria continuar, ele respondeu: “nós estamos chamando uma greve por tempo determinado há alguns dias. Dentro da LCR nosso objetivo é a derrubada do CPE e nós também estamos chamando pela renúncia de Chirac, Sarzoky, Villepin e todo o resto.”

O WSWS pediu ainda que Sabado explicasse por que a LCR estava de acordo com “pedido solene” da “Resposta Coletiva”(frente da dita “esquerda) ao presidente Chirac exatamente um dia depois de terem publicado uma declaração descrevendo todo tipo de apelo como insuficiente. “Tudo o que queremos é a unidade de ação, a mobilização de toda a esquerda unificada, isso é o mais importante”, ele respondeu. “Chirac falou ontem e, de fato, nós pedimos que ele não promulgasse a lei. É tudo”. Sabado, então, não respondeu às demais questões do WSWS.

As desculpas de Sabado são indicativos do papel traidor da LCR no movimento anti-CPE. Enquanto seus representantes públicos empenham-se em chamados demagógicos para a greve e mobilizações contra o governo, eles trabalham de mãos dadas com os stalinistas (do PCF) e social-democratas (do PS) para atrelar a classe trabalhadora ao Estado francês e impedir que os trabalhadores e a juventude desenvolvam uma perspectiva socialista independente.