Neste fim-de-semana, protestos estudantis aconteceram em toda
a França contra a promulgação, pelo presidente
Jacques Chirac, da legislação gaullista do Contrato
do Primeiro Emprego (CPE-Contrat Première Embauche).
Apesar da enorme oposição e das manifestações
populares de oposição à lei, o presidente
apoiou o primeiro-ministro Dominique de Villepin e ratificou a
lei, que permite que os jovens trabalhadores sejam demitidos sem
justa causa durante os dois primeiros anos de trabalho.
Os protestos irromperam em cidades de todo o país depois
do discurso de Chirac na televisão, na sexta-feira à
noite. Em Paris, 5 mil jovens foram contidos pela tropa de choque
quando tentaram marchar até o palácio de Elysée,
a residência oficial do presidente. Os manifestantes clamavam,
greve geral, renúncia de Villepin, Chirac na prisão.
A tropa de choque atirou bombas de gás lacrimogêneo
nos estudantes nos arredores da Universidade de Paris (Sorbonne);
esta permanece bloqueada pela polícia. As autoridades relataram
100 prisões.
Em várias cidades francesas, no sábado e no domingo,
os estudantes bloquearam estradas e linhas de trem, anunciando
planos de novos bloqueios e ocupações de auto-estradas,
estações de trem, aeroportos e edifícios
públicos. Se as manifestações e paralisações
não deram o recado, precisamos diversificar as nossas formas
de protesto, afirma Karl Stoeckel, presidente da união
dos estudantes secundaristas (UNL - Union Nationale Lycéene).
Trabalhadores e estudantes irão lançar amanhã
[dia 4 de abril] um dia nacional de paralisações
e manifestações. Espera-se que esta ação
de massa seja ainda maior do que a mobilização da
última terça-feira [28/03], que reuniu cerca de
3 milhões de pessoas.
Mais de 20 milhões de pessoasquase 90% dos telespectadoresassistiram
ao discurso de Chirac. De acordo com um pesquisa realizada pelo
Le parisien, apenas um quarto dos entrevistados considerou o discurso
convincente.
Chirac e Villepin se recusam a oferecer qualquer concessão
genuína em relação à CPE. A oferta
do presidente de reduzir o período de teste
dos jovens trabalhadores de 2 anos para 1 ano mantém todos
os aspectos essenciais da CPE inalterados. O outro ajuste proposto,
de que os empregadores relatem aos trabalhadores despedidos a
razão da demissão, é na realidade a exigência
de uma explicação apenas verbal. Essa proposta foi
elogiada por Lawrence Parisot, presidente da associação
patronal MEDEF.
O governo se ofereceu para discutir as emendas à lei
com os sindicatos trabalhistas, através do ministro do
interior Nicolas Sarkozy e outros membros do partido de situação
UMP (União pelo Movimento Popular). A burocracia sindical
declarou que não vai se reunir com Villepin até
que a CPE seja retirada. O novo papel de Sarkozy como intermediário
foi pensado como facilitador da capitulação dos
sindicatos.
Diversos sindicatos já indicaram que esperam ansiosos
pela mesa de negociação. O parceiro de negociação
com os sindicatos não é mais o primeiro ministro,
mas os deputados da UMP, a quem devemos pressionar para conseguir
a revogação da lei, declara François
Chérèque, presidente do CFDT (Confederação
francesa democrática do trabalho). Jean-Claude Mailly,
líder do FO (Força Operária), afirma que
não fecharia as portas às discussões
com os representantes parlamentares. Representantes de sindicatos
de dois sindicatos patronais, o CFTC e o CFE-CGC, manifestaram
posição semelhante.
A aceitação dos sindicatos em negociar com os
representantes do governo novamente demonstra a sua determinação
em isolar e mesmo suprimir o movimento anti-CPE. A sua preocupação,
desde o início, tem sido a de impedir que o movimento se
desenvolva em uma luta aberta contra a administração
de Chirac-Villepin.
Como os sindicatos, os partidos ditos de esquerda
não pouparam esforços em demonstrar o seu valor
para a elite dominante. Onze organizações, incluindo
o Partido socialista, o Partido Comunista, os Verdes e a Liga
Comunista Revolucionária (LCR), formaram a Resposta
Coletiva para coordenar a sua prostração ante
o Estado francês.
A Resposta Coletiva realizou uma reunião
sobre o pronunciamento do presidente e pediu solenemente
que Jacques Chirac derrubasse o CPE para então abrir negociações
com os sindicatos e para trazer novamente a discussão ao
parlamento.
No sábado de manhã, o grupo formulou uma resposta
conjunta ao pronunciamento de Chirac, aquele que promulgava o
CPE. Eles declararam que Chirac não está a
favor dos interesses gerais, está procurando dividir o
movimento, continuar a impor suas políticas e voltar as
costas às aspirações da juventude e da grande
maioria da população. Inflamando os ânimos
dessa maneira, ele está perigosamente exacerbando a crise
social pela qual todos nós estamos passando.
As onze organizações ditas de esquerda
manifestaram seu apoio ao dia nacional de ações
amanhã, e anunciaram que iriam distribuir uma declaração
conjunta durante as manifestações.
Repórteres do WSWS entrevistaram Brigitte Dionnet, membro
do comitê executivo do Partido Comunista, após o
encontro. O WSWS perguntou por que o PCF se recusou a chamar uma
greve geral por tempo indeterminado com o objetivo de derrubar
o governo. Porque não é o PCF que deve chamar
a greve geral por tempo indeterminado, Dionnet respondeu.
São os sindicatos que devem fazê-lo, e então,
é claro, nós vamos apoiar todas as mobilizações
que acontecerão e também as propostas que os sindicatos
fizerem.
Quando o WSWS disse que chamar uma greve geral não era
uma questão dos sindicatos, mas antes, uma questão
política, ela respondeu: Sim, mas nós acreditamos
que não é suficiente decidir apertar um botão
para que as coisas aconteçam, e então, nós
continuamos a debater e lutar pela ampliação da
mobilização. Se é isso o que os trabalhadores
querem, deixem que eles façam isso, nós iremos apoiá-los.
O WSWS perguntou se o papel do PCF era seguir o movimento,
e não liderá-lo. Não, isso não
quer dizer que nós seguimos, quer dizer que todos têm
suas esferas particulares de responsabilidade e nós estamos
tentando tomar conta da nossa.
Os stalinistas, de fato, têm um longo e já estabelecido
histórico em assumir o papel de sustentação
da dominação burguesa na França durante os
períodos de crise. Nos levantes revolucionários
de 1936 e 1968, a classe trabalhadora foi sufocada e traída
pelo PCF, que há muito tempo abandonou os princípios
internacionalistas e socialistas sob os quais o partido foi fundado
em 1920.
Na crise atual, provocada pelos ataques do governo sobre as
condições dos jovens trabalhadores, os stalinistas
fizeram todo o esforço em canalizar o movimento para os
sindicatos e sussurrar para conseguir apoio para a campanha eleitoral
de 2007. O Partido Comunista, como força dominante dentro
da classe trabalhadora, tem perdido militantes e apoiadores ao
longo dos anos e agora é pouco mais que um aparelho burocrático.
Robert Hue, o candidato a presidente pelo partido em 2002, recebeu
apenas 3,4% dos votos.
O WSWS também falou com François Sabado, um delegado
do LCR. Sabado é membro do bureau político do partido
e também trabalha no bureau executivo do SU (Secretariado
Unificado), a organização internacional à
qual a LCR é filiada (no Brasil, a SU é representada
pela Democracia Socialista que em parte atua no PT e, em parte,
no PSOL). Quando perguntamos o que pensa sobre como o movimento
deveria continuar, ele respondeu: nós estamos chamando
uma greve por tempo determinado há alguns dias. Dentro
da LCR nosso objetivo é a derrubada do CPE e nós
também estamos chamando pela renúncia de Chirac,
Sarzoky, Villepin e todo o resto.
O WSWS pediu ainda que Sabado explicasse por que a LCR estava
de acordo com pedido solene da Resposta Coletiva(frente
da dita esquerda) ao presidente Chirac exatamente um dia
depois de terem publicado uma declaração descrevendo
todo tipo de apelo como insuficiente. Tudo o que queremos
é a unidade de ação, a mobilização
de toda a esquerda unificada, isso é o mais importante,
ele respondeu. Chirac falou ontem e, de fato, nós
pedimos que ele não promulgasse a lei. É tudo.
Sabado, então, não respondeu às demais questões
do WSWS.
As desculpas de Sabado são indicativos do papel traidor
da LCR no movimento anti-CPE. Enquanto seus representantes públicos
empenham-se em chamados demagógicos para a greve e mobilizações
contra o governo, eles trabalham de mãos dadas com os stalinistas
(do PCF) e social-democratas (do PS) para atrelar a classe trabalhadora
ao Estado francês e impedir que os trabalhadores e a juventude
desenvolvam uma perspectiva socialista independente.