Uma agência dirigida pela federação sindical
americana AFL-CIO (American Federation of Labour-Congress of Industrial
Organizations, ou seja, Federação Trabalhista Americana-Congresso
de Organizações Industriais) jogou um papel chave
ao financiar e aconselhar aqueles que organizaram a tentativa
fracassada de golpe militar em abril de 2002 na Venezuela. O papel
da AFL-CIO no golpe apoiado pelos EEUU enfatiza o fato de que
mesmo enquanto o instrumento sindical se torna cada vez mais irrelevante
como um fator significativo na política americana e nas
vidas de trabalhadores dos EEUU, ele continua a conspirar internacionalmente
contra os direitos democráticos e os interesses da classe
trabalhadora.
As revelações quanto ao envolvimento da AFL-CIO
referem-se ao papel do Centro Americano para a Solidaridade Trabalhista
Internacional (ACILSAmerican Center for International Labor
Solidarity) na Venezuela, uma agência dirigida pela AFL-CIO
que é largamente financiada pelo governo dos EEUU.
Evidência da participação dos EEUU na tentativa
de golpe de 11-12 de abril tem continuado a crescer em semanas
recentes. Uma investigação oficial pelo governo
venezuelano revelou que dois importantes oficiais dos EEUU se
aliaram aos comandantes militares venezuelanos que apoiou o golpe
no Forte Tiuna, a maior base militar de Caracas, onde o presidente
Hugo Chavez foi mantido após ser capturado pelos soldados
que apoiavam a derrubada de seu governo.
De acordo com essa investigação, o tenente Coronel
James Rodgers, adido militar dos EEUU em Caracas, teria orientado
os generais que se voltaram contra Chavez, , permanecendo com
eles por 48 horas, até que o golpe desmoronou diante de
demonstrações maciças e motins, e fraturas
dentro do estabelecimento militar venezuelano. O segundo oficial,
Coronel do exército dos EEUU Ronald MacCammon, teria estado
também presente durante todo o golpe, oficiais venezuelanos
relataram.
Diversos oficiais venezuelanos implicados no golpe mencionaram
que estavam cientes da presença deste oficial [MacCammon]
durante os eventos, uma fonte próxima da investigação
disse à agência de notícia francesa AFP. Eles
foram assegurados de que o movimento teve plena sustentação
dos Estados Unidos e por esta razão participaram.
Washington negou estes relatórios, fazendo a reivindicação
incrível de que dois oficiais dos EEUU teriam meramente
feito, de carro, uma vistoria dos centros de operação
do golpe. Eles nunca saíram de seu veículo,
um oficial do Departamento de Estado insistiu.
Mas o escritório de Rodgers era situado no quinto andar
do edifício principal de Fort Tiuna. Os EEUU foi o único
país cujo adido militar teve este privilégio. Chavez
havia requisitado que o escritório fosse removido, mas
as forças armadas venezuelanas nunca executaram suas instruções.
O Pentágono, entrementes, anunciou que está realizando
sua própria investigação. Nós
queremos apenas estar certos de que ninguém estava agindo
por si mesmo, um porta-voz do Departamento de Defesa disse.
Não há nenhuma indicação de que
a AFL-CIO esteja conduzindo uma investigação similar,
embora não haja nenhuma dúvida de que seus representantes
em Caracas estavam intimamente envolvidos na tentativa de golpe
de um governo eleito. Um porta-voz da federação
trabalhista não retornou uma chamada à procura de
um comentário.
A participação da AFL-CIO ocorreu através
de uma organização chamada Centro Americano para
a Solidariedade Trabalhista Internacional (ACILSAmerican
Center for International Labor Solidarity), que forneceu auxílio
e conselheiros técnicos à Confederação
dos Trabalhadores VenezuelanosCTV.
O presidente da CTV, Carlos Ortega, foi um dos principais participantes
na tentativa de golpe, aliando-se aos cabeças das principais
associações dos grandes negócios para organizar
uma marcha contra o governo em frente ao palácio presidencial.
Mais de uma dúzia de pessoas foi morta a bala, a maioria
delas defensores de Chavez atingidos na cabeça por balas
de pistoleiros. As forças armadas responsabilizaram as
matanças a Chavez e se agarraram a isso como pretexto para
depor o presidente.
Pedro Carmona Estanga, líder do grupo empresarial FEDECAMARAS,
foi proclamado o presidente de um governo ínterim,
uma junta dominada por oficiais militares de alto escalão
e elementos da extrema direita. Ele requisitou rapidamente a dissolução
da legislatura nacional, a abolição da constituição
e a revogação de todas as leis passadas nos quatro
anos precedentes sob a presidencia de Chavez.
Depois que o golpe fracassou, Ortega, da CTV, permaneceu escondido
por semanas, enquanto advertia que a Venezuela explodiria em guerra
civil a menos que Chavez fizesse grandes concessões
àqueles que tentaram derrubá-lo.
A derrubada de Chavez foi preparada nos dois meses precedentes
por uma série de greves e protestos organizados pela CTV
com o suporte protetor das empresas venezuelanas, culminando em
uma greve geral comum de trabalhadores e patrões no dia
do golpe.
Durante o mesmo período, o ACILS expandiu suas operações
dentro da Venezuela conjuntamente com outras três organizações
não-governmentais, representando os partidos Democrático
e Republicano e os grandes negócios dos EEUU.
Todos são financiados pela agência Reservas para
a Democracia National (NEDEndowment for Democracy), fundada
em 1983 pela administração de Reagan com o objetivo
de fornecer uma estrutura legal para as operações
que previamente haviam sido realizadas secretamente pela CIA.
Entre os diretores fundadores da agência estavam Henry Kissinger,
Secretário de Estado de Nixon e Conselheiro de Segurança
Nacional, bem como o então presidente da AFL-CIO Lane Kirkland
e o presidente da Federação Americana de Professores
Albert Shanker, dois dos burocratas trabalhistas com ligações
mais próximas ao Departamento de Estado.
Nos últimos dois anos, o NED quadruplicou seu fundo
para operações venezuelanas para quase USA$1 milhão.
Deste, USA$154.377 foram passados ao ACILS para financiar suas
atividades com a CTV, que incluiu ajuda para organizar as eleições
internas que eram enforçadas pela burocracia trabalhista
do governo de Chavez. A AFL-CIO, que tem mantido relações
bem próximas com a burocracia corrupta da CTV, trabalhou
para assegurar-se de que seus oficiais superiores retivessem o
poder.
Além disso, o ACILS trabalhou conjuntamente com um quarto
grupo patrocinado pela agência NED representando os grandes
negócios dos EEUU para organizar um debate democrático
bem informado sobre a legislação que afeta a reforma
econômica, os impostos e a propriedade privada. Os
interesses empresariais de ambos, dos EEUU e venezuelanos, opuseram-se
fortemente às medidas limitadas de reforma executadas pelo
governo de Chavez para redistribuir a terra não utilizada
e para limitar o controle estrangeiro dos recursos extensivos
do petróleo do país.
Nos EEUU, até mesmo mais dinheiro foi dirigido a duas
agências americanas que funcionam como asas da política
externa dos partidos Democrático e Republicano. Mais de
USA$210.000 foram alotados ao Instituto Democrático Nacional
para os Assuntos Internacionais, a fim de aconselhar
funcionários do governo local, enquanto o Instituto Republicano
Internacional recebeu uma concessão de quase USA$340.000
para as atividades de construção de partido.
Enquanto o jornal The New York Times citava um funcionário
não-identificado do Departamento de Estado que teria dito
que mais fundo havia sido colocado na reserva para garantir que
não fosse usado para financiar a derrubada inconstitutional
do governo da Venezuela, a administração de
Bush negou rapidamente o relatório, indicando que outro
milhão de dólares teria já sido encaminhado
para o próximo ano fiscal.
Com seu endosso sonoro do golpe, o presidente do Instituto
Republicano Internacional, George Folsom, pois por baixo as negações
da administração de Bush e do NED quanto à
participação dos EEUU. O povo venezuelano
levantou-se para defende a democracia em seu país,
Folsom disse. Os venezuelanos foram levados à ação
em conseqüência da repressão sistemática
do governo de Hugo Chavez. Esta reivindicação
não é validada pelos fatos. Sejam quais forem suas
falhas, o governo de Chavez não tem nenhum prisioneiro
político e tem tolerado os meios de comunicação
controlados pelos empresários que abertamente colaboraram
com a tentativa de golpe.
Nos meses que conduziram ao golpe militar, o Instituto Republicano
Internacional organizou viagens a Washington para figuras políticas
venezuelanas opostas a Chavez para reuniões com funcionários
de alto escalão da administração de Bush.
O que é o ACILS?
Previamente, a AFL-CIO realizou suas operações
dentro da América Latina atravéz de uma agência
conhecida como Instituto Americano para o Desenvolvimento Livre
do Trabalho, ou AIFLD (American Institute for Free Labor Development).
Com décadas de colaboração com o governo
dos EEUU, o AIFLD tornou-se conhecido internacionalmente como
a frente trabalhista da CIA, dedicado a subverter
sindicatos militantes independentes e provocar revolta trabalhista
contra governos alvejados por Washington.
Na Guatemala, esse instituto ajudou a organizar um sindicato
aprovado pela United Fruit Company (Companhia Fruta Unida) e pelas
forças armadas para impor calma aos trabalhadores das plantações
de banana. Na Guiana, no final dos anos de 1960, o AIFLD instituiu
uma série de greves e atiçou tensões raciais
entre trabalhadores do leste indiano e afro-cararibenhos a fim
causar a derrubada do regime nacionalista de Cheddi Jagan. No
Brasil, líderes do sindicato dos trabalhadores das comunicações,
treinados pelo AIFLD, ajudaram as forças armadas na apreensão
do poder em 1964, e no Chile o AIFLD serviu como canal para o
financiamento da CIA para empregados profissionais e gerentes,
como também para os sindicatos dos proprietários
de caminhão, que realizaram greves para perturbar a economia
e preparar o terreno para a apreensão do poder pelas forças
armadas em setembro de 1973.
Durante a guerra suja financiada pelos EEUU em
El Salvador, os conselheiros do AIFLD inundaram o país,
trabalhando para construir uma associação de camponeses
pro-militares e projetando uma reforma da terra modelada
nos programas de contra-insurgência desenvolvidos durante
a guerra no Vietnam.
Com o final da Guerra Fria e a subseqüente mudança
na liderança do próprio AFL-CIO, o novo presidente
da federação, John Sweeney, procurou uma mudança
cosmética na frente internacional, assim criando o ACILS,
que herdou a rede de escritórios internacionais bem como
o pessoal do AIFLD e outras três organizações
regionais mantidas conjuntamente pela burocracia trabalhista e
pelo governo americano.
O ACILS recebe ainda a parte do leão de seu financiamento
de fontes do governo americano, aproximadamente USa$15 milhões
por ano. Isto inclui uma concessão, a ser distribuída
durante cinco anos, da Agência para o Desenvolvimento Internacional
de USA$45 milhões; USA$4 milhões do NED; USA$1 milhão
a cada dois anos do Departamento de Estado e USA$300.000 do Departamento
Trabalhista. O próprio AFL-CIO recebe outro USA$1 milhão
por ano.
O que o governo dos EEUU obtem com esse pagamento? Anúncios
de ofertas de emprego colocados recentemente pelo ACILS avisam
os candidatos de que suas responsabilidades incluirão fornecer
informação sobre as condições
do país e assuntos trabalhistas conforme solicitado pelos
escritórios do governo dos EEUU baseados em Washington.
Enquanto o ACILS continua o papel do AIFLD de braço
da política estrangeira imperialista dos EEUU, incluindo
as intrigas contra-revolucionárias da CIA, a burocracia
do sindicato tem tentado apresentá-lo como uma organização
nova, dedicada à organização internacional
dos trabalhadores contra a super-exploração em ambiente
de trabalho inadequado (sweatshops). Na realidade, ela promove
uma forma de protecionismo, de nacionalismo do tipo compre
o americano com fachada de direitos humanos.
O diretor executivo do ACILS é Harry Kamberis, um veterano
do Instituto Americano-Asiático do Trabalhador Livre (AAFLIAsian
American Free Labor Institute), o equivalente asiático
do AIFLD. Antes disso, ele trabalhou por muitos anos como um funcionário
do Departamento de Estado americano, alocado na Grécia,
em Bangladesh e no Paquistão.
A experiência trabalhista principal de Kamberis
ocorreu nas Filipinas, onde os esforços do AAFLI foram
dedicados a sustentar o Congresso da União de Sindicatos
das Filipinas (TUCP - Trade Union Congress of the Philippines),
uma instituição criada por Ferdinand Marcos para
defender sua ditadura. Entre 1983 e 1989, quando Kamberis era
ativo nas Filipinas, o AAFLI deu à federação
trabalhista pró-Marcos cêrca de USA$6 milhões.
O TUCP usou esse fundo para conter a emergência de sindicatos
mais militantes, particularmente aqueles sob a asa do Centro Trabalhista
KMU (Kilusang Mayo Uno). Neste ponto, e sob a direção
de seus conselheiros dos EEUU, o TUCP aliou-se com
a ditadura, os patrões, a polícia e os esquadrões
da morte da direita.
Tendo falhado em estabelecer qualquer oposição
ao roubo da eleição de 2000 por Bush e a direita
Republicana, a liderança de Sweeney do AFL-CIO tem nos
últimos 2 anos se aproximado ainda mais dos Republicanos.
Em parte, isto apenas identifica o fato político de que
o Partido Democrático não fornece nenhuma alternativa
à defesa desavergonhada por parte dos Republicanos dos
interesses empresariais. Entretanto, o AFL-CIO deu boas-vindas
também ao apoio da administração de Bush
para o militarismo irrestrito como uma oportunidade de provar
o seu valor como um defensor leal dos interesses dos imperialistas
americanos.
Agora, os burocratas trabalhistas dos EEUU estão trabalhando
intimamente com um grupo de conspiradores da ultra-direita, veteranos
das conspirações ilegais da administração
de Reagan na América Central nos anos de 1980. Manipulando
os planos do golpe venezuelano e finalmente dirigindo as atividades
da frente trabalhista do ACILS estão homens
tais como Otto Reich, o Sub-Secretário de Estado para os
Assuntos Latino Americanos. Reich, um militante anti-comunista
cubano exilado, serviu anteriormente como o cabeça de um
esforço ilegal do governo americano para espalhar a propaganda
falsa contra o governo Sandinista da Nicarágua, apoiando
os mercenários financiados pela CIA que lutaram contra
o governo nicaragüense.
O episódio sórdido na Venezuela coloca claramente
que o AFL-CIO continua a executar seus serviços contra-revolucionários
para o governo dos EEUU no exterior, mesmo enquanto passa por
cima de uma série infinita de traições, derrotas,
concessões e dispensas para trabalhadores sindicalizados
nos EEUU.