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Estão os EEUU planejando assassinar o presidente da Venezuela?

Por Bill Vann
13 Octubre 2003

O presidente venezuelano Hugo Chavez cancelou uma viagem planejada no mês passado para participar do debate de abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas, explicando que assim o fêz por causa de uma ameaça potencial à sua vida. As agências de inteligência do seu governo teriam advertido de um plano apoiado pela Agência de Inteligência Central (CIA—Central Intelligence Agency) dos EEUU para sabotar seu vôo de Caracas a New York City. Ele e outros preocuparam-se também com os terroristas contrários ao governo da Venezuela que estão fazendo treinamento militar em solo dos EEUU.

Os meios de comunicação dos EEUU mal relataram as preocupações venezuelanas quanto à segurança do presidente; e quando o fizeram, tentaram geralmente apresentar as acusações como uma indicação de que Chavez é instável ou está sofrendo de paranóia.

As preocupações de Chavez, entretanto, são fundamentadas. Embora tenha ganho duas eleições populares consecutivas pelas maiores margens populares na história venezuelana, ocupa seu posto hoje graças somente à falha de uma tentativa de golpe em abril de 2002 realizada com o suporte mal disfarçado da administração de Bush. Aqueles que realizaram o golpe eram receptores de fundos dos EEUU, incluindo dinheiro do governo dirigido através da burocracia sindical da AFL-CIO e de sua frente internacional, o Centro Americano para a Solidaridade Trabalhista Internacional (ACILS—American Center for International Labor Solidarity).

O regime militar-empesarial que apreendeu momentaneamente o poder prendeu Chavez incommunicável em uma ilha da costa venezuelana por dois dias enquanto decidia seu destino. Washington deu boas-vindas ao golpe e ‘pulou fora' depois que a oposição maciça nas ruas de Caracas fêz a posição da nova junta governante insustentável.

Depois que se soube que os planejadores do golpe tinham mantido repetidos debates com um grupo de imigrantes cubanos da direita e veteranos na ‘guerra dos contras' na Nicarágua mantidos pela CIA que mantêm posições chaves de poder no Departamento do Estado e no Pentágono, a administração de Bush reivindicou inacreditavelmente que estes indivíduos estavam tentando meramente sugerir às forças armadas e empresariais venezuelanas que mudassem de idéia quanto à tomada do governo. Nenhum deles, entretanto, pensou em advertir Chavez do golpe que estava-se aproximando.

Desde a falha do golpe, a Venezuela tem sido alvo de uma campanha econômica e política incansável de destabilização, incluindo uma greve de 64 dias dos trabalhadores da indústria do óleo apoiada por líderes da oposição em dezembro e em janeiro em uma tentativa de derrubar o governo.

Os oficiais dos EEUU, entrementes, têm emitido repetidas declarações denunciando Chavez. ‘Eu penso que algumas das coisas que ele tem feito polìticamente no seu país e suas políticas no lado econômico têm arruinado o que é um país relativamente próspero', declarou recentemente Roger Noriega, oficial superior para questões sobre a América Latina no Departmento de Estado. Noriega não fêz nenhuma menção da greve do óleo, que contou com o apoio implícito de Washington, ou da decisão de Washington em julho de cortar todo o crédito para a Venezuela do Banco de Exportação e Importação dos EEUU.

Ao mesmo tempo, a administração de Bush tem dado apoio aberto à campanha por elementos da oposição para forçar uma eleição prévia visando derrubar Chavez. Em um ato de interferência bruta em assuntos internos da Venezuela, o embaixador Charles Shapiro dos EEUU apareceu diante da comissão eleitoral recentemente formada no país no mês passado e ofereceu auxílio dos EEUU ao painel, incluindo determinar se deveriam aceitar a petição da oposição para a eleição prévia.

Shapiro não é nenhum desconhecido da subversão e das matanças patrocinadas pela CIA. Sua carreira diplomática nos anos de 1980 foi centrada em El Salvador. Serviu primeiramente como escriturário sobre assuntos salvadorenhos do Departmento de Estado de 1983 a 1985, e então como político consular na embaixada dos EEUU em San Salvador de 1985 a 1988. Essa posição tem sido usada geralmente como um disfarce para o chefe local da CIA em outros países.

Este período cobriu momentos cruciais da guerra civil salvadorenha e dos massacres e assassinatos ‘ao atacado' realizados pelos esquadrões da morte apoiados pelos militares. Foi também quando os EEUU usaram El Salvador como base das operações para sua guerra ‘dos contras' ilegal contra a vizinha Nicarágua.

Ao final, o painel venezuelano decidiu que a oposição havia recolhido a maioria de suas assinaturas de forma ilegal e havia então ajustado um novo calendário para proceder à eleição prévia. Partidários de Chavez no ‘Movimento da Quinta República' indicaram que eles também entrariam com uma petição para a eleição prévia de governadores, prefeitos e deputados da oposição procurando a derrubada do presidente. O mais cedo que o referendo da prévia pode ocorrer é fevereiro próximo.

Semanas recentes têm visto uma série de bombardeios terrorista em Caracas, incluindo uma bomba jogada nas barracas militares perto do palácio presidencial de Miraflores e um ataque ao consulado colombiano. Mais recentemente, os terroristas lançaram um dispositivo explosivo nas matrizes da CONATEL, a agência reguladora das telecomunicações do governo, aparentemente em retaliação pelo confisco de equipamento ilegal da rede de televisão Globovision, controlada pela oposição.

Entrementes, o governo venezuelano protestou o fato de que forças anti-governamentais, incluindo participantes diretos no golpe de abril de 2002, estão conduzindo abertamente treinamento em táticas terroristas em solo dos EEUU.

Um artigo publicado no Wall Street Journal em janeiro detalhou as atividades na Florida do capitão Luis Eduardo Garcia, um dos primeiros oficiais venezuelanos a invadir o palácio presidencial durante o golpe de abril de 2002. Dirigindo um grupo conhecido como Junta Patriótica Venezuelana, Garcia forjou uma aliança ‘cívico-militar' com os Comandos F-4, um grupo anti-Castro no exílio que tem realizado ataques terroristas contra Cuba.

De acordo com o Journal: ‘Agora o capitão Garcia diz que está fornecendo treinamento militar para cêrca de 50 membros do Comando F-4, 30 deles americano-cubanos, o resto venezuelanos, em uma área de tiro próxima do Parque Everglades. ‘Estamos praticando para a guerra', ele diz'.

Os jornais da Flórida, incluindo o El Nuevo Herald publicaram relatórios semelhantes sobre o campo de treinamento terrorista.

Chavez protestou diretamente contra a existência do acampamento em uma reunião no último mês com Shapiro. Em um discurso feito também em setembro, ele denunciou a hipocrisia da suposta guerra ao terrorismo da administração de Bush. ‘Lá nos EEUU eles estão conspirando contra a Venezuela', ele disse. ‘Terroristas estão treinando contra a Venezuela e esta é uma reclamação que deve ser feita ao governo dos EEUU, porque eles são obrigados pela lei internacional a agir. Se o que dizem for verdadeiro, que estão lutando contra o terrorismo, eles devem agir contra os terroristas em seu próprio território que estão ameaçando a Venezuela'.

Shapiro respondeu reivindicando que o treinamento dos terroristas em solo dos EEUU ‘não é necessariamente um crime'. Ele afirmou que o governo dos EEUU está "no processo de coletar informações e deverão seguir todos os procedimentos legais". Os primeiros relatórios das atividades militares do capitão Garcia apareceram na imprensa de Miami há um ano.

Enquanto abriga terroristas venezuelanos a Flórida, a administração tem osquestrado uma campanha sinistra para marcar a Venezuela como paraíso terrorista. Um produto desta movimentação propagandística apareceu no exemplar de 6 de outubro do US News & World Report sob o título temeroso ‘Terror perto de Casa'.

O artigo, consistindo quase inteiramente de alegações não-confirmadas atribuídas a fontes não-reveladas da inteligência e do governo dos EEUU, reivindica que ‘Chavez está flertando com o terrorismo, e Washington está prestando atenção com crescente apreensão'

A substância destas reivindicações sensacionalistas consiste em sua maior parte no fato de que há uma minoria árabe na Venezuela bem como centenas dos milhares de refugiados colombianos. O fato de que o governo venezuelano fornece documentos de identidade a essa gente—que o artigo insinua estarem de alguma forma ligados a algum grupo terrorista em virtude de sua nacionalidade—é tido como apoio ao terrorismo.

‘As ligações suspeitas entre a Venezuela e o radicalismo Islâmico estão-se multiplicando', o artigo declara. Como evidência, cita o exemplo de um único venezuelano de origem árabe que foi deportado dos EEUU em março de 2002. Quando os EEUU procuraram encontrar este indivíduo para interrogações, ‘oficiais venezuelanos teriam dito que ele não estava mais no país'. O artigo não fornece nenhuma explicação de porque a inabilidade da Venezuela em encontrar essa pessoa é mais suspeita do que a decisão das autoridades dos EEUU para liberá-la antes que tiverem completado suas interrogações.

O artigo conclui: ‘Dado tudo que está acontecendo na Venezuela de Chavez, alguns oficiais americanos lamentam que o terrorismo seja visto principalmente como um problema do Oriente Médio e que os Estados Unidos não estejam procurando proteger seu flanco sul'. Isto constitui-se em um apelo direto para que Washington use o pretexto do ‘terrorismo' para lançar uma outra guerra predatória, desta vez na América Latina.

A retórica populista de Chavez e o criticismo afiado da guerra não-provocada da administração de Bush no Iraque ganharam a inimizade de Washington, como também seus laços amigáveis com a Cuba de Castro. Ao final, entretanto, a campanha sustentada dos EEUU contra seu governo tem as mesmas raizes essenciais que a guerra contra o Iraque. A Venezuela é o quinto maior exportador de petróleo do mundo, e a elite governante dos EEUU está determinada a estabelecer sua hegemonia incontestável sobre os recursos estratégicos de energia que existem lá e na vizinha Colômbia.

Não são apenas as reservas do petróleo que existem na Venezuela que preocupam Washington, mas também o comportamento do governo de Chavez nos mercados internacionais do petróleo. A Venezuela tem pressionado pela elevação dos preços do óleo e recentemente antagonizou a administração dos EEUU objetando duramente contra a participação de uma delegação do conselho governante iraquiano controlado pelos EEUU em uma reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Há também indicações da oposição dos EEUU à decisão da Venezuela em realizar acordos de troca com outros países latino-americanos para negócios do petróleo e em usar Euros ao invéz de dólares para outras transações.

Ao avaliar a validez das preocupações de Chavez sobre assassinato, o comportamento internacional de Washington é certamente relevante. Na corrida para a guerra um ano atráz, o porta-vóz de Bush da Casa Branca declarou que o problema do Iraque poderia ser resolvido com ‘uma bala' A administração cancelou publicamente as limitações precedentes sobre assassinatos da CIA e realizou tais matanças políticas no Yemen e no Afeganistão, reivindicando que seus alvos eram ‘suspeitos de terrorismo'.

No Iraque, após ter realizado a invasão e a ocupação ilegais do país, a administração de Bush advogou repetidamente o assassinato do presidente deposto , Saddam Hussein. No último mes de julho, assassinou seus dois filhos e organizou então a transmissão internacional das imagens terríveis de seus corpos.

Entrementes, a administração tem apoiado Israel em sua política de ‘assassinatos planejados' de militantes palestinos e de líderes, e recentemente vetou uma resolução condenando a ameaça pública do regime de Sharon para assassinar o presidente Yasser Arafat da Autoridade Palestina.

Não há nenhuma razão para duvidar que elementos da administração de Bush requisitaram planos para a realização de mudança de regime na Venezuela por meio de assassinato. No Iraque e em outros lugares, este governo dos EEUU tem provado amplamente sua prontidão para recorrer aos métodos mais criminosos para realizar seus planos.